Fintechs de previdência privada devem crescer com pandemia
Digitalização motivada pelo isolamento social e busca de reserva financeira estimulam segmento
Folha de S.Paulo - 07 de Abril de 2021A maior digitalização do sistema financeiro trazida pela pandemia de coronavírus e a adesão ainda baixa a planos de previdência complementar tendem a impulsionar a chegada das chamadas prevtechs –fintechs voltadas para a previdência privada.
Segundo Antonio Rocha, presidente da Onze, gestora de
investimentos focada em fundos de previdência privada, além do maior foco no
digital impulsionado pela atual conjuntura, as mudanças trazidas pela Reforma
da Previdência em 2019 e a maior preocupação de pessoas com a formação de uma
reserva de capital também abriram espaço para o surgimento de iniciativas mais
focadas no setor.
“Esse é um ciclo relativamente novo, mas que tem um foco
importante tanto na gestão do capital como na disseminação da educação
financeira e do conceito de previdência privada. Além disso, a pegada é trazer
taxas menores e melhores fundos de previdência para o mercado”, afirmou Rocha.
Para o presidente da Abrapp (Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar), Luís Ricardo Martins, apesar
de a reinvenção do setor para um ambiente mais tecnológico exigir grandes doses
de planejamento e investimentos, é um movimento já começou e tende a se
intensificar ao longo dos próximos anos.
“Já vemos a população querendo se planejar para o futuro,
buscando taxas menores, consultores nas estratégias de investimentos de
previdência. Esse é o caminho no qual a gente vem trabalhando”, afirmou.
As discussões acerca de taxas mais acessíveis e um leque
mais amplo de opções, no entanto, não são de hoje. Mesmo entre as empresas mais
tradicionais são raras as que impõem taxas de carregamento (que incidem sobre o
investimento em momentos específicos).
Os últimos dados da associação apontam que os ativos dos
fundos de pensão ultrapassaram a marca de R$ 1 trilhão em novembro do ano
passado, representado cerca de 13,7% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
As carteiras dos fundos de pensão também tiveram o melhor
retorno anual, alcançando a rentabilidade de 4,51% no mês. Além disso, as
entidades fechadas de previdência complementar –denominação oficial dos fundos
de pensão– tiveram o maior superávit desde 2015, com R$ 26,6 bilhões.
O maior interesse dos brasileiros em poupar e investir
também acaba refletindo nos planos para aposentadoria futura e,
consequentemente, esquentam o mercado de fintechs voltadas para o segmento.
De acordo com o diretor da ABFintechs (Associação Brasileira
de Fintechs), Renan Schaefer, apesar de o conceito de prevtech ser
relativamente novo, já existem diversas fintechs que englobam a previdência
complementar em suas atuações.
“Temos diversas startups financeiras que abrangem o tema,
mas como ainda existe uma complexidade e um desconhecimento considerável pelo
assunto, a tendência é que fintechs cada vez mais nichadas apareçam para
preencher essas lacunas”.
“Esse movimento acaba sendo positivo. Muitas fintechs nascem
e crescem dentro de segmentos específicos exatamente porque conseguem atender
uma dor muito pontual do sistema financeiro. E há bastante espaço para
concorrência”, completou Schaefer.
O movimento, segundo os executivos do setor, tende a crescer
tanto do lado da previdência aberta (planos voltados para qualquer pessoa que
esteja interessada) quanto para a previdência fechada (os fundos de pensão,
criados exclusivamente para funcionários de uma empresa ou de uma categoria
específica).
Dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados)
apontam que o segmento de previdência registrou mais de 32 milhões de
participantes em janeiro de 2021 –um aumento de 12,2% em relação a igual mês de
2020.
Para Carlos Alberto de Paula, diretor-executivo da FenaPrevi
(Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), o segmento de previdência
já demonstrou avanços importantes na agenda de inovação tecnológica, mas ainda
tem espaço para avançar.
“O Brasil já deu um salto significativo no que diz respeito
à previdência e seguro de vida, mas ainda é um mercado em expansão. Passar pela
Reforma [da Previdência] foi um passo importante e certamente isso impulsionará
o mercado. Tudo é bem-vindo desde que passe pelo crivo dos supervisores e
reguladores do mercado”, afirmou de Paula.