Artigo: Cibersegurança e as implicações para os investimentos
Por Esteban Polidura, diretor de assessoria para as Américas do Banco Julius Baer, no Valor Econômico
O hacking
malicioso continua sendo uma ameaça constante para as Américas. Ainda no início
do ano, os EUA emitiram um aviso emergencial após descobrirem que os hackers
sequestraram o software utilizado por várias agências federais para obter
entrada nos seus sistemas seguros de TI. O risco não é apenas para o governo, mas
especialmente para as empresas.
Segundo a CNBC,
os ciberataques custam em média US$ 200 mil a empresas de todos os tamanhos,
sendo 43% deles destinados a pequenas empresas. Para além do impacto financeiro
imediato do vazamento de informações, existem outros custos. As consequências
ocultas apontadas pela Deloitte incluem aumentos de prêmios dos seguros,
elevado custo para aumentar dívida, perda de valor das relações com clientes e
desvalorização do nome comercial, entre outros.
Também
proliferaram na América Latina os ataques de “ransomware” e “malware”. A
Fortinet estima que só em 2019, a região sofreu mais de 85 bilhões de
tentativas de ataque. Dados do Statista mostram que o Brasil teve a maior
porcentagem, em 2020, de servidores atacados por ransomware na América Latina,
com quase 47% de infectados. Há três razões fundamentais para a América Latina
estar sendo alvo de ataques.
Em primeiro
lugar, assistiu-se a um grande aumento da penetração da internet nos últimos
anos, com 67% das pessoas tendo acesso à internet em 2020 contra 36% em 2011.
Em segundo lugar, a tecnologia financeira (fintech) está sendo mais abraçada. O
BIS salienta que, no período de 2017 a 2019, o investimento de fintechs na
região aumentou mais de 100%, com o Brasil dominando o panorama com grandes
negócios em bancos digitais e empresas de serviços de pagamento. E em terceiro ugar,
os investimentos em segurança cibernética continuam a ser insuficientes e os
mecanismos de defesa coordenados são escassos.
O mercado de
segurança cibernética da região foi avaliado em US$ 13 bilhões em 2019. O
Brasil tem sido um viveiro de cibercrimes nos últimos anos.
Há alguns
meses, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi atingido por um grande ataque
cibernético que paralisou as suas operações durante vários dias. Esse foi o
ataque cibernético mais grave já orquestrado contra uma instituição do setor
público no país. O grupo Embraer foi também alvo de um ciberataque que teve
impacto nas operações da empresa. Dois anos antes, descobriu-se que um grande
botnet estava desviando o tráfego destinado aos bancos brasileiros.
De acordo com a
Kaspersky, 2021 será mais um ano desafiador para a América Latina. Haverá
aumento e diversificação dos ataques dirigidos aos sistemas financeiros por
grupos cibercriminosos locais. Alguns sistemas operativos e plataformas de
comunicação serão cada vez mais utilizados para a realização de ataques. E
técnicas sofisticadas relacionadas com inteligência artificial serão utilizadas
para orquestrar campanhas de desinformação ou propagar código malicioso.
Os riscos só
aumentarão à medida que os malwares relacionados à mineração de criptomoedas
apresentarem aos cibercriminosos uma alternativa ao resgate. A América Latina é
particularmente propensa a ciberataques relacionados com moedas criptográficas,
uma vez que a depreciação das moedas e ambientes políticos incertos levam
investidores a procurar refúgio em criptomoedas.
Dados da
Chainalysis 2020 Geography of Cryptocurrency Report apontam para que as
transações no Brasil tenham atingido quase US$ 10 bilhões no ano passado, com o
bitcoin representando mais de 80% dos volumes negociados.