Porto Seguro: Na chuva, sem se molhar
A IstoÉ Dinheiro conta que poucas empresas brasileiras puderam ostentar um número azul na última linha do resultado no ano passado. A tempestade econômica gerada pela pandemia empurrou para baixo a maioria das companhias no Brasil e no mundo, mas não contaminou todas elas. Uma das que passaram ilesas foi a seguradora Porto Seguro, a maior no segmento de veículos no mercado brasileiro e a terceira colocada no ranking geral da Superintendência de Seguros Privados (Susep), segundo dados de 2019.
Em 2020, a despeito do ambiente hostil, a companhia cresceu
3,2% na comparação com 2019 e fez R$ 18,9 bilhões. No mesmo período, o lucro
líquido disparou 23%, passando de R$ 1,3 bilhão, em 2019, para R$ 1,6 bilhão,
no ano passado. Nesse sentido, curiosamente, a Covid-19 jogou a favor.
Passar mais tempo em casa, ver amigos precisando de seguro
saúde e de vida, fez com que as pessoas mudassem suas prioridades, afirmou
Roberto Santos, CEO da Porto Seguro. “Essas eram preocupações que não existiam
aqui, mas sempre foram bastante valorizadas em países que viveram guerras ou
catástrofes, como a Alemanha e o Japão”.
A percepção de risco dos consumidores, brasileiros, mais
atentos à incerteza do amanhã, também mudou durante a crise, o que deve se
tornar definitivo, na visão do executivo. “São mudanças comportamentais que têm
a ver com o conceito de proteção. Será um legado bastante importante”, afirmou
Santos. E é nesse ambiente, de maior prevenção e cautela dos consumidores, que
a Porto Seguro pretende turbinar seus resultados. Pelos cálculos do CEO, a
companhia vai dobrar o número de clientes, passando dos atuais 8,5 milhões para
cerca de 17 milhões dentro dos próximos cinco anos.
As projeções estão em sintonia com a realidade do mercado
de seguros no Brasil. Segundo estudo realizado pela Confederação Nacional das
Seguradoras (CNseg), o desempenho do setor apresentou queda de apenas 0,2% no
comparativo de janeiro a novembro de 2020 com o mesmo período do ano anterior
resultado pouco ruim iante de uma expectativa de retração de 4,5% no Produto
Interno Bruto (PIB) do ano passado. Nesse período, a arrecadação do setor
totalizou R$ 242,9 bilhões.
Um dos motores do crescimento da Porto Seguro foram, por
razões óbvias, os seguros de saúde, de vida e patrimonial, que apresentaram
alta de 11%, 2,6% e 6,6%, respectivamente. O crescimento desses segmentos, na
avaliação do CEO, só aconteceu pela mudança de pensamento causada pela
Covid-19. “Quando deparamos com o risco iminente da morte, como tem ocorrido na
pandemia, valorizamos mais a importância do seguro”, afirmou Santos. No sentido
contrário, os ramos que mais caíram no balaço anual da companhia foram o de
previdência privada, com retração de 17,4% na captação (de R$ 705,2 milhões, em
2019, para R$ 582,5 milhões, em 2020), e o segmento automotivo, que encolheu
1,2% e totalizou R$ 9,8 bilhões de prêmios emitidos no ano passado.
EXPANSÃO Entendendo o novo cenário do mercado brasileiro, a
Porto Seguro também aumentou o número de negócios sob o guarda-chuva do grupo.
A divisão em seguros, saúde, negócios financeiros e serviços será, segundo a
companhia, uma forma de aumentar a visibilidade dos produtos e operações
prestados pela empresa. “Essas verticais sempre possuíram participação
importante no grupo. Mas o seguro de automóveis acabava fazendo sombra e
tirando o brilho de todos os outros”, disse Santos.
Até 2025, a Porto Seguro pretende que as quatro vertentes
se tornem independentes e se expandam. “Costumo dizer que temos um pré-sal
dentro de casa. Vamos utilizá-lo com sabedoria e muita tecnologia para fazer a
oferta certa ao cliente certo”, afirmou o CEO.
Como parte do aprimoramento tecnológico responsável por 95%
dos R$ 329 milhões investidos pela companhia em 2020 , no final de janeiro a
Porto Seguro anunciou a compra de 74,6% da Segfy, plataforma de soluções
tecnológicas voltada para corretores de seguros. Sem divulgar o valor da aquisição,
o CEO diz que a plataforma terá papel fundamental no plano de expansão da Porto
Seguro. “Vamos facilitar a vida do corretor, fidelizá-lo e, posteriormente,
ampliar a plataforma para todos os outros serviços oferecidos pelo grupo”.
Mas essa não deve ser a única aquisição. “Montamos um
venture capital para investir em empresas que têm sinergia com a gente e em
operações que possam aprimorar nossos conhecimentos. O mercado de seguros vai
crescer muito no País”, afirmou. Afinal, como diz o provérbio, um homem
prevenido vale por dois.