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BNP Paribas Cardif prevê grande transformação em seguros no Brasil

Seguradora tem um plano para, em cinco anos, tornar-se completamente digital

Valor Econômico - 04 de Fevereiro de 2021

A BNP Paribas Cardif, o braço de seguros do conglomerado financeiro francês, prepara-se para uma grande mudança no mercado brasileiro nos próximos cinco anos, conta o Valor Econômico. Na visão do CEO da filial brasileira, Alessandro Deodato, a pandemia acelerou muito a experiência digital dos consumidores e, com isso, não só os produtos, mas toda a forma de interação com os clientes na indústria vai precisar ser mudada.

Com essa percepção, a BNP Paribas Cardif Brasil elaborou um plano de médio prazo para, em cinco anos, tornar-se uma seguradora completamente digital. “Em geral, quando os negócios vão bem as empresas não sentem necessidade de mudar, mas acho que precisamos mudar” sob o risco de ficar obsoletos, diz. “A forma de consumir seguros, por exemplo, vai ter uma transformação muito grande nos próximos anos.”

Com 20 anos de Brasil, a Cardif se especializou nos seguros massificados, como o de garantia estendida e de proteção financeira. A companhia não tem rede de venda própria e construiu uma base de 20 parcerias para comercialização dos produtos nos pontos de venda. São varejistas, como Magazine Luiza, bancos - entre os quais Bradesco, BV e instituições financeiras de montadoras - e outras empresas com grandes bases de consumidores em pontos de vendas físicos. Hoje o grupo conta com estoque de 25 milhões de coberturas e 15 milhões de clientes ativos. A seguradora afirma comercializar 1 milhão de novos produtos por mês no país.

O Brasil representa metade do faturamento da América Latina e 5% do total da BNP Paribas Cardif no mundo. Em 2019, a holding emitiu € 30 bilhões em prêmios e obteve um lucro líquido de € 1,7 bilhão. O plano de reposicionamento do grupo no Brasil foi batizado de “20/25”.

Conforme Deodato, o potencial de crescimento dos seguros no país é um dos maiores do mundo, porque a população brasileira ainda consume poucos produtos de proteção. “As atuais taxas de prêmios de seguros sobre o PIB no Brasil são inferiores aos dos demais pares na América Latina”, explica o CEO. “Fizemos pesquisa global em 2019 e, aqui, mais de 40% dos respondentes disse não sentir necessidade de se proteger por meio de seguro”, acrescenta.

De acordo com o executivo, durante a pandemia, 45% dos atendimentos de segurados foram feitos por meio da internet ou por canais móveis como o WhatsApp. “Tivemos uma aceleração digital neste ano muito maior do que a dos últimos anos juntos.” Conforme Deodato, “não se pode vender o seguro e depois desaparecer até o sinistro”.

No plano de transformação, a BNP Cardif quer que todos os seus produtos ofereçam benefícios ao longo da validade das apólices. O CEO da Cardif Brasil cita o seguro prestamista, que agora traz a possibilidade de o segurado fazer cursos gratuitos na plataforma Coursera. “Fizemos parceira com a plataforma, que tem mais de 3 mil cursos on-line. Todos seguros de proteção financeira tem acesso gratuito aos cursos. Porque achamos que poderíamos agregar iniciativas para ajudar o cliente a ficar melhor capacitado e aumentar as chances de ser contratado, caso, por exemplo, fique desempregado.”

Segundo o executivo, todos os produtos terão serviços e assistências específicas, como capacitação na proteção financeira e descontos na compra de bens e serviços em proteções como garantia estendida. “Independentemente de qual a solução, temos de ter mais interação durante a vida do seguro, integrando o core business do nosso parceiro, como desconto para produtos no caso da Magalu”, explica.

A seguradora afirma querer “acrescentar o cliente na equação dos objetivos do grupo”. Para Deodato, parece já ter virado lugar comum esse tipo de direcionamento, mas “nenhuma mudança verdadeira se faz sem levar em conta a jornada do consumidor”. Pensar em como melhorar essa experiência do usuário final, aponta o CEO da seguradora, é que leva a implementar processos mais eficientes e benefícios efetivos aos produtos.

“O ganho pode ser em serviços, mas também em como fazer para ter uma apólice mais simples - não dá para ter uma apólice de 40 páginas -, ou implantar conveniências como ter um serviço de recolhimento de aparelhos a domicílio e assim por diante.” Na visão do executivo, o plano 20/25 busca também manter um crescimento da companhia acima do setor. “Nossa meta é superar a indústria no Brasil, mas de maneira orgânica”, diz Deodato.

Ele lembra ainda que, além da aceleração nas mudanças dos hábitos de consumo trazida pela pandemia, os próprios reguladores têm assumido um papel de indutor de transformação do mercado, impulsionando competição e inovação. “A Susep tem feito um ótimo trabalho de puxar a inovação no mercado de seguros. E, em paralelo, está acontecendo uma transformação do sistema financeiro com Pix e open banking. Isso deve ser inspiração para as companhias de seguros, senão seguiremos olhando o passado mais que o futuro.” Conforme Deodato, “o modo de consumir seguros vai mudar muito e devemos ser nós a mudar antes que o legislador ou regulador nos obrigue”.

Na opinião do executivo, coberturas intermitentes, nas quais o cliente pode ligar e desligar a proteção conforme achar conveniente, pode trazer novos consumidores para diversos produtos, como residencial, de viagem e auto. “Um seguro, por exemplo, que devolve parte do prêmio se você não usar. Ou, se eu jogo futebol, posso precisar de um seguro que me proteja apenas por duas horas. E assim por diante. Existem muitas opções para reduzir o custo das proteções a tornar mais acessível os produtos de seguros no Brasil.”