‘Planos de saúde podem ter um alcance maior’
Presidente da Hapvida diz que há espaço para mais consolidação no setor
O Estado de S. Paulo - 11 de Janeiro de 2021A união das operadoras Hapvida e Grupo Notredame Intermédica (GNDI), que está sendo negociada, traz, à primeira vista, uma maior concentração no mercado de planos de saúde, destaca o Estadão. Mas, para o presidente da Hapvida, Jorge Pinheiro Koren de Lima, é uma operação que pode ser positiva não apenas para as empresas, mas também para os clientes, já que eventuais ganhos de sinergia seriam repassados aos preços. Juntas, as duas empresas teriam um valor de mercado de R$ 120 bilhões e receita líquida anual na casa dos R$ 18 bilhões.
Segundo
o executivo, a fusão entre as empresas é bastante antiga. A Hapvida nasceu em
1979, quando o pai de Jorge, Cândido Pinheiro, médico oncologista, abriu uma
clínica, que mais tarde se tornou um hospital com planos de saúde – hoje, o
médico-empresário está à frente do conselho de administração da empresa. A
seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual
a lógica por trás da proposta de fusão entre Hapvida e Notredame?
As
duas empresas têm modelos de negócios bem semelhantes, mas, foram criadas em regiões
diferentes e atuam em posições geográficas diferentes (Hapvida é mais
concentrada no Norte e Nordeste e o GNDI em São Paulo). E as empresas são
verticalizadas. No nosso caso, somos a empresa mais verticalizada do mundo, com
80% das consultas e 90% das internações feitas dentro das nossas unidades
próprias. Essa possibilidade de fusão é algo transformacional e muito positiva.
A missão das empresas é oferecer medicina de alto padrão e de forma acessível.
Com a combinação, isso ocorrerá de forma muito mais intensa. Estamos a um passo
da criação de uma das maiores operadoras de saúde do mundo todo.
Os
ganhos de sinergias chegarão aos clientes?
É
sempre o nosso objetivo, repassar os ganhos que a empresa vem historicamente
tendo ao longo do tempo. Nossa missão é ser acessível, não abrindo mão da
qualidade assistencial. A posição geográfica de cada uma hoje se encaixa como
se fosse um quebra-cabeça, não há sobreposição. Atuaremos nas cinco regiões
brasileiras e teremos um só produto. Nos planos corporativos, haverá só um
fornecedor atuando para todos os grandes players, como as redes varejistas. A
combinação vai nos permitir atender a todos de maneira única.
De
onde virão as sinergias?
De
várias frentes. Uma delas é que é esperada redução da sinistralidade
(consultas, exames, cirurgias, etc.), o que ocorre com a maior verticalização e
tecnologia, por exemplo. Seremos ainda a maior empresa em número de hospitais
do País. É natural também esperar eliminação de duplicidades de despesas gerais
e administrativas.
Qual
será o foco de atuação, se a operação for bem-sucedida?
A
combinação dos negócios pode aumentar o alcance dos planos de saúde. Hoje, apenas
22% da população é coberta por planos de saúde. Queremos ser cada vez mais
acessíveis. Nos últimos três ou quatro anos, em função de crise, o setor perdeu
três milhões de usuários. Antes da pandemia, esse era o terceiro item de maior
desejo do brasileiro e, em tempos de covid, esse desejo deve ter aumentando, é
natural se esperar isso. Primeiro, temos a possibilidade de trazer de volta os
usuários que saíram e ainda todo um universo de pessoas que nunca tiveram um
plano.
Como
foi o ano de pandemia para a empresa?
O ano
passado foi muito desafiador, e também será assim em 2021. Mas nossa empresa
tem caminhado da melhor forma possível. Estamos sendo transparentes e somos os
únicos a divulgar todos os dados da covid, incluindo o de óbitos. Se
compararmos o usuário da Hapvida, o índice de mortalidade tem sido a metade do
índice visto na população em geral.
Por
que o setor de saúde no Brasil passa por grande movimento de fusões e
aquisições?
O
setor no Brasil é muito pulverizado, com mais de 700 empresas. Ainda vejo
espaço de consolidação no setor por conta dessa fragmentação.
Quais
serão os principais destinos de investimentos?
Tecnologia
será um dos principais itens da nossa pauta. Em laboratórios de diagnóstico
vamos crescer de forma orgânica (sem aquisições), mas, em hospitais e
operadoras de planos, é bem provável que iremos continuar consolidando o
mercado.