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Intermédica avalia hoje proposta de fusão da Hapvida

“Estamos bem confiantes que a transação será concluída nessas condições. Foi feita com base nas conversas que tivemos no passado”, disse o presidente da Hapvida

Valor Econômico - 11 de Janeiro de 2021

As duas maiores operadoras de planos de saúde do país - Hapvida e NotreDame Intermédica - negociam uma fusão que, se aprovada, será uma das maiores do país, conta o Valor Econômico. A companhia combinada tem valor de mercado de R$ 118 bilhões, considerando a cotação de sexta-feira, quando os papéis dispararam com a notícia de uma possível combinação das empresas. “A fusão cria a maior operadora verticalizada de planos de saúde do mundo, com 13,5 milhões de usuários de planos de saúde e dental”, disse Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida, operadora fundada por sua família em 1979, no Ceará.

A partir de hoje o conselho de administração e acionistas da NotreDame Intermédica vão analisar a proposta apresentada pela concorrente. Segundo fontes, a Intermédica deve tentar negociar algumas melhorias como um aumento do prêmio por ação e maior equilíbrio no número de conselheiros de cada uma das empresas. Na atual proposta, o prêmio é de 10% e o conselho seria formado por nove integrantes, sendo cinco indicados pela Hapvida, dois pela Intermédica e outros dois independentes.

“Acho justo ter maior equilíbrio dos conselheiros para uma melhor integração das culturas das empresas, que são distintas”, disse uma fonte. Uma outra fonte ponderou ser “natural que, quando alguém bate à sua porta com uma proposta, você veja espaço para negociar”.

As duas empresas já conversavam, informalmente, há alguns anos sobre essa possibilidade, mas o que fez a Hapvida bater à porta da concorrente com uma proposta estruturada, criada pelos bancos BTG e Itaú BBA, foi o último “follow-on” (oferta secundária) da gestora de private equity Bain, principal acionista da Intermédica, que no começo de dezembro, reduziu sua fatia de 20% para 11%. Com a fusão, a Bain - que tem quatro das seis cadeiras do conselho - passaria a ter cerca de 5% da companhia combinada, fatia que poderia ser vendida na bolsa.

Apesar de Bain ter reduzido a sua participação para cerca de metade ainda tem uma forte influência nas decisões da Intermédica, uma vez que o acordo de acionistas lhe dá diversos poderes enquanto detém 10% da companhia. Pinheiro acredita que a oferta será aprovada nas atuais condições.

“Estamos bem confiantes que a transação será concluída nessas condições. Foi feita com base nas conversas que tivemos no passado”, disse o presidente da Hapvida. A proposta apresentada pela operadora do Ceará contempla um prêmio de 10% nas ações da Intermédica, considerando a média do preço do papel nos últimos 20 dias. A transação envolve troca de ações, com os acionistas da Hapvida passando a deter 53,1% e os sócios da Intermédica com uma fatia de 46,9%. A família Pinheiro reduz sua participação de 70% para 37,6%, mas ainda assim continua como maior acionista de um grupo que passaria a deter 17,6% do setor de planos de saúde do país.

O conselho de administração da Intermédica, que contratou na sexta-feira o Citi, terá de tomar uma decisão sob pressão do mercado, que deu claros sinais de que aprovou a proposta de fusão. Na sexta-feira, as ações da operadora fecharam com alta de 26,59% e os papéis da Hapvida, subiram 17,68%. Num só pregão, a companhia combinada ganhou cerca de R$ 20 bilhões em valor de mercado. “Vemos o negócio como positivo para ambas as empresas. A empresa potencialmente incorporada teria uma carteira complementar de usuários, com a Hapvida tendo mais de 60% dos beneficiários no Norte e Nordeste, enquanto a GNDI tem praticamente toda a sua base nas regiões Sul e Sudeste do país”, diz Fred Mendes, analista do Bradesco BBI.

Questionado sobre possíveis restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) devido ao tamanho da nova companhia, o presidente da Hapvida argumenta que praticamente não há sobreposições de praças entre as duas operadoras. “A beleza do negócio é que somos líderes em regiões distintas. Estamos no Norte e Nordeste e a GNDI, no Sudeste. Em São Paulo, por exemplo, a GNDI é líder na Região Metropolitana e nós no interior”, disse Pinheiro.

Essa liderança em regiões distintas é que fez os investidores apostarem que, em algum momento, as duas operadoras iriam integrar seus negócios para se transfomarem numa empresa de presença nacional. Mas, essa transação não era vislumbrada para ser concretizada já até porque as operadoras vinham competindo, inclusive, pelos mesmos ativos.

Essa concorrência acirrada foi vista neste ano com Hapvida e NotreDame Intermédica competindo cada metro quadrado de Minas Gerais. Cada uma delas assinou cheques de R$ 1,6 bilhão para comprar operadoras e hospitais mineiros, o que parecia mostrar que o jogo era de competição e não fusão. A história das duas operadoras têm muitos pontos em comum. Ambas atuam com rede verticalizada, abriram o capital com poucos dias de diferença em 2018 e foram criadas por médicos empreendedores.

A Hapvida foi fundada pelo oncologista Cândido Pinheiro, de 74 anos, e a Intermédica pelo médico Paulo Barbanti, de 80 anos, que vendeu sua operadora à Bain em 2014. “Conversamos há muitos anos, antes de eu vender à Bain. Hapvida me procurou para uma fusão, mas iam ser minoritários porque na época a Hapvida era menor”, contou Barbanti.

De 2018 para cá, capitalizadas pelo IPO e outras emissões de papéis, as duas operadoras investiram cifras milionárias para expansão. Enquanto o setor perdeu 1,6 milhão de usuários devido à crise econômica, Hapvida e Intermédica ganharam 2,6 milhões de beneficiários, entre 2016 e 2020. No ano passado, as empresas desembolsaram R$ 4,2 bilhões em aquisições de operadoras e hospitais.

Atualmente, a rede verticalizada das duas operadoras é formada por 70 hospitais e 300 clínicas. Se concluída a transação, a Hapvida pretende abrir sua rede verticalizada para clientes de outras operadoras como já faz a NotreDame Intermédica, e com isso aumentar sua receita.