Seguradoras extinguem grupo e Susep deve indicar gestor para DPVAT
Líder continuará administrando apólices em vigor
Valor Econômico - 24 de Novembro de 2020O Valor Econômico informa que as seguradoras que fazem parte do DPVAT decidiram ontem pela dissolução do consórcio que administra o produto. Para executivos da Líder, que faz a gestão do seguro obrigatório, foi uma sinalização de falência do modelo, que ainda sofreu desgaste de imagem nos últimos anos. Agora, a Susep articula para indicar um gestor.
Em
outubro, 36 das 55 empresas que compunham o consórcio manifestaram a intenção
de deixar o grupo. Por se tratar de um percentual relevante, as regras previam
a necessidade de se instaurar uma assembleia. O objetivo inicial era avaliar se
o consórcio concordava com a saída das seguradoras, o que não foi aceito ontem.
Com esse resultado, a dissolução do consórcio teve que ser votada na sequência.
Todas as decisões foram por maioria.
“Tem
um desgaste de imagem. Ocorreram problemas no passado, assim como em diversas
empresas. Foi feita uma grande transformação da empresa nos últimos anos para
ser uma companhia eficiente”, disse o presidente do conselho de administração
da Líder, Leandro Alves, ao Valor.
Segundo
ele, não houve uma única razão pela dissolução. O executivo também afirmou que
o prêmio muito baixo - os valores foram caindo ao longo dos anos - reduziu a
atratividade do DPVAT para as seguradoras. “Você está num negócio com desgaste
de imagem e que gera uma receita muito pequena”, acrescentou.
Para
Alves, um terceiro fator para a redução da atratividade do seguro seria o risco
atuarial do produto, no entendimento de algumas seguradoras, inclusive
estrangeiras. Em 2019, foi editada uma medida provisória que previa a extinção
do DPVAT. A medida foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Susep
defendia essa extinção e a abertura da concorrência, alegando que o DPVAT é
ineficiente e abre margem para corrupção. Em 2015, a operação Tempo de
Despertar, da Polícia Federal, investigou fraudes no DPVAT.
No
entendimento do presidente do conselho, a Líder vai continuar administrando os
seguros já vendidos. Pelas regras do DPVAT, há um período de até três anos para
pleitear indenizações. “A Líder vai conduzir o processo”, disse. Mas, segundo
uma fonte, a Susep negocia para que um ente público assuma a gestão dos
recursos do DPVAT. Procurada, a autarquia não comentou.
A
Susep vinha monitorando a situação do DPVAT e a possibilidade de dissolução do
consórcio já era vislumbrada. O regulador defende que as cobranças de prêmios
sejam zeradas pelos próximos dois anos e que os recursos em caixa, de mais de
R$ 7 bilhões, sejam utilizados. Esse período seria um prazo considerado viável
para se desenhar um novo modelo para o produto. Qualquer mudança nas regras
precisa passar pelo Congresso Federal.
O
presidente da Líder, Ismar Torres, disse que a decisão das seguradoras é um
recado de que são necessárias novas regras. “De uma hora para outra houve uma
mudança no regramento. As seguradoras ficaram desgastadas de tanta
fiscalização, questionamentos, prestação de contas do passado de uma hora para
outra e as seguradoras acabaram tomando a decisão”.
No
dia 18 de novembro, a Susep notificou a Líder para recolher R$ 2,25 bilhões ao
caixa dos recursos do DPVAT, referentes a 2.119 despesas consideradas
irregulares pela fiscalização. Na visão da autarquia, essas despesas foram
executadas com recursos públicos do seguro entre os anos de 2008 e 2020. Para
Torres, começou-se a dar tratamento para a Líder como se fosse uma empresa
pública.
Antes
da decisão pela dissolução, a seguradora Líder buscava uma solução negociada
com o ministério da Economia e a Susep para o futuro do produto e para isso
nomeou Alves, exexecutivo do Banco do Brasil e da Petrobras. “Quando tem 36
seguradoras saindo em um momento de crise, é hora de construir uma coisa nova
se houver entendimento do governo de que o produto é importante para a
sociedade brasileira, como é nosso entendimento”, afirmou.