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Plano individual cresce com gestão e rede restrita

Novo modelo acompanha de perto o usuário, tem rede verticalizada ou enxuta e usa tecnologia na gestão

Valor Econômico - 23 de Novembro de 2020

Ao contrário do que se prega há anos, o mercado de planos de saúde individual vem se provando viável para algumas operadoras e atraindo novos negócios, relata o Valor Econômico. Em comum, o modelo é baseado em três pontos: acompanha de perto a saúde do usuário, tem rede médica verticalizada ou enxuta, e usa tecnologia de dados para acompanhar a frequência com que o plano é acionado pelo cliente e os riscos.

“Antes, falar em rede de atendimento orientada era um palavrão, mas agora, essa percepção está mudando. Com a telemedicina, que cresceu muito na pandemia, é possível dar a orientação e quando necessário fazer o encaminhamento do paciente para o atendimento presencial”, disse Reinaldo Scheibe, presidente da Abramge, entidade das operadoras de planos de saúde. A maior carência de planos individuais está na cidade de São Paulo que representa o maior mercado de convênio médico do país.

Seguradoras como Bradesco Saúde e SulAmérica e as operadoras Amil e NotreDame Intermédica, que atuam na capital paulista, não vendem planos individuais há muitos anos. O fato de o reajuste da mensalidade do plano individual ser controlado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não as estimula. A legislação não permitir seguradoras terem rede própria de hospitais também não ajuda.

Mas surgem na capital paulista iniciativas que trabalham com a tríade “gestão de saúde, uso de tecnologia e rede médica enxuta”. Neste ano, foram inauguradas a Alice, de ex-executivos da 99 e Dr. Consulta, e a Qsaúde, do fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, conhecido como Júnior. Ambas incluíram em seu portfólio hospitais, clínicas e laboratórios de primeira linha - não há o tradicional livro, com uma longa lista de médicos e clínicas; a rede é restrita.

Com isso, Alice e Qsaúde querem atrair também o público que faz questão de ser atendido em hospitais com nomes reconhecidos. Com esse portfólio, vão investir pesadamente em tecnologia e gestão médica de seus usuários. “Estamos em fase piloto de vendas, mas a procura já é grande e estamos muito otimistas com o futuro”, disse Júnior, da Qsaúde, que trabalhará com médicos de família da Clínica Einstein e o Hospital Albert Einstein, referências na capital paulista.

A inspiração da Qsaúde em gestão médica veio da Prevent Senior, que, além de trabalhar só com plano individual, é voltada à terceira idade. “Crescemos 6,3% até outubro. Foi uma surpresa neste ano de pandemia e crise”, disse Fernando Parillo, presidente da Prevent Senior, que estima encerrar o ano com cerca de meio milhão de usuários distribuídos na sua maior parte em São Paulo. Nas demais regiões do país, a oferta de planos individuais não é tão limitada como em São Paulo devido à presença das Unimeds.

Quase metade do mercado de planos individuais é atendido pelas cooperativas médicas que também vêm lançando cada vez mais produtos com rede restrita para controlar os custos. Em geral, a taxa de sinistralidade dos planos individuais é superior ao empresarial, entre outros motivos, devido à idade de seus usuários. “Dos 300 mil usuários de planos de saúde individual de Belo Horizonte, cerca de 70% são clientes da Unimed-BH ”, disse Samuel Flam, presidente da cooperativa médica mineira. A líder do segmento de planos individuais e também uma das maiores do setor é a Hapvida, que conta com quase 1 milhão de usuários dessa modalidade de convênio.

Com forte presença no Nordeste e Norte, a operadora verticalizada vem expandindo sua atuação e já está em regiões como Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e interior de São Paulo. “Vendemos plano individual há mais de 30 anos, temos usuários com 90 anos de idade. Historicamente é um plano bem rentável para nós. Temos um arsenal tecnológico, fazemos gestão. Esses requisitos afastam a maioria das operadoras desse mercado”, disse Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida.

Atualmente, há por volta de 9 milhões de usuários de planos de saúde individual, o que representa 19% do mercado. Nos últimos cinco anos, esse mercado encolheu 8,38% - praticamente o dobro dos planos empresariais e por adesão. Nos últimos 12 meses, encerrado em setembro, período 6 da pandemia, os planos empresarial e individual ficaram estáveis. Já o convênio médico por adesão cresceu 1,72%.