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Problemas de saúde causaram 280 mil acidentes desde 2014

Diabetes, pressão alta, estresse e déficit de atenção, entre outras, são condições de risco

O Estado de S. Paulo - 14 de Outubro de 2020

O Estadão relata que cerca de 283.500 acidentes de trânsito registrados em rodovias brasileiras nos últimos seis anos tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas no momento da ocorrência. A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), que estudou os dados de acidentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre janeiro de 2014 e julho de 2020, e os agrupou em grandes categorias. Dessa forma, as causas mais frequentes identificadas foram falta de atenção ao conduzir, ingestão de álcool, sonolência do condutor, mal súbito, restrição de visibilidade e ingestão de substâncias psicoativas.

Divulgado por ocasião da Semana Nacional do Trânsito, no final de setembro, o estudo revela que, no período, foram 247.475 feridos e 14.551 mortos. Além disso, demonstra a importância de ações preventivas com foco na saúde do motorista para a redução dos acidentes nas vias e rodovias brasileiras. “Essas situações denotam quadros direta ou indiretamente associados à condição de saúde dos condutores, como déficit de atenção permanente ou circunstancial, deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio”, pontua Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.

RESPONSABILIDADE DO CONDUTOR

De acordo com José Montal, diretor da Abramet, por problemas de saúde entende-se desde condições preexistentes, caso de pessoas que sofrem de alguma enfermidade e que pode ser acentuada pelo ato de dirigir – como diabetes, pressão alta –, até situações momentâneas – por exemplo, as que ocorrem como consequência da ingestão de álcool ou mal súbito. “É importante lembrar que a direção pode gerar uma tensão até mesmo nos que estão acostumados a essa prática. E isso pode ser desencadeado pela condução nas vias, pouca visibilidade em estradas ou outros fatores”, explica Montal.

Para prevenir essas situações, os exames médicos nos motoristas, com a periodicidade com que são feitos hoje, são insuficientes. Para o presidente da Abramet, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas. “Como a realização mais frequente do exame de aptidão física e mental pelo motorista, mecanismo considerado decisivo para a redução da mortalidade no trânsito. Também necessitamos de campanhas permanentes de conscientização e de fiscalização”, diz Meira Júnior.

No estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) com base em dados de acidentes da Polícia Rodoviária Federal coletados nos últimos seis anos, a falta de atenção ao volante aparece na primeira posição, respondendo por 215.401 dos acidentes catalogados, ou 76% do total registrado no período. Só esse fator responde por 182.288 feridos e 9.047 mortes. Na avaliação da Abramet, falta de atenção pode ser consequência de situações clínicas importantes, como fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio.

Na sequência, como segunda maior responsável pelos acidentes, vem a ingestão de bebida alcoólica (veja quadro ao lado). “Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a percepção da velocidade e dos obstáculos, a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, destaca Flavio Adura, diretor científico da Abramet.

Ele explica ainda que a relação entre consumo de álcool e sobrevivência em acidentes é direta. “Significa dizer que, quanto mais a pessoa tiver bebido, maior sua chance de morrer”, completa Adura. Entre 2014 e julho de 2020, foi registrado pela PRF um total de 40.268 acidentes nas rodovias em que a ingestão de álcool foi considerada uma das causas. Desse total, 36.999 vítimas foram encaminhadas com ferimentos leves ou graves e houve 2.679 óbitos.

SONO E MAL SÚBITO

A sonolência é a terceira condição que mais aparece no estudo, causando 2.092 mortes e deixando 22.645 feridos no período analisado. “Observar bons hábitos de sono, tratando possíveis doenças e descansando o suficiente antes de qualquer viagem, previne acidentes”, lembra o diretor científico da Abramet. A sonolência excessiva, segundo ele, tem consequências como redução do tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo.

O chamado mal súbito, ou perda de consciência, ocorre normalmente por causa de doenças cardiológicas, como infarto ou arritmias, ou neurológicas (acidente vascular cerebral ou convulsões) e totalizou 2.702 acidentes e aparece na quarta posição. A visão reduzida foi responsável por 2.205 ocorrências e o efeito de entorpecentes sobre o condutor acumularam 292 casos. Juntos, eles respondem por 773 mortes no trânsito nas rodovias e o encaminhamento de 5.543 vítimas de colisões para atendimento médico.