Poupança para o futuro cresce, mas ainda é baixa
Apenas 12% dos brasileiros com mais de 25 anos e conta em instituição financeira poupam para a aposentadoria
Valor Econômico - 10 de Agosto de 2020O Valor Econômico relata que apenas 12% dos brasileiros com mais de 25 anos com conta em alguma instituição financeira poupam recursos pensando na aposentadoria, segundo Relatório Global 2020 do Sistema Previdenciário. O estudo foi elaborado pelo Grupo Allianz com base em banco de dados do Banco Mundial de 2017.
O
percentual é baixo, porém, mais que dobrou em relação a 2014, quando
correspondia a 5%. Economizar recursos com foco na aposentadoria ganhou cada
vez mais relevância para manutenção do padrão de vida no futuro depois da
aprovação da reforma da Previdência, que prevê que o cidadão permaneça mais
tempo no trabalho e redução de benefício, alerta o documento.
De
acordo com o relatório, dos 70 países analisados, em metade deles, basicamente
emergentes ou em desenvolvimento, menos de 30% da população com mais de 25 anos
fazia economia em 2017 pensando na velhice.
Além
do Brasil, fazem parte desta lista países como Argentina, Bahrein, Bulgária,
Chile, China, Colômbia, México, Marrocos, Nigéria, Peru, Rússia, Arábia Saudita
e África do Sul. Por outro lado, em países classificados como industrializados
como Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Israel, Japão,
Nova Zelândia, Noruega, Cingapura, Suécia, Suíça e EUA, mais de 50% da
população com 25 anos ou mais fazia economia para a velhice em 2017.
Segundo
Michaela Grimm, economista sênior da Allianz Research, em muitos países
emergentes como o Brasil há menos conscientização sobre o envelhecimento da
população e a necessidade de reserva privada para o momento de saída do mercado
de trabalho que em países industrializados. Além disso, em muitas nações
emergentes, a educação financeira e o acesso a serviços financeiros precisam
ser aprimorados.
A
conscientização sobre a necessidade de se poupar recursos para a aposentadoria
passa também pelo valor do benefício garantido pelo governo, por exemplo, se a
chamada taxa de reposição é alta ou não. Esse indicador mostra quanto o
trabalhador mantém de sua renda após a aposentadoria.
Normalmente,
quanto maior essa taxa, menor é a motivação para fazer uma poupança com foco na
aposentadoria. Na avaliação da especialista, não há um nível “ótimo” de
economia que poderia ser feita para a aposentadoria pois depende da situação
específica de cada país e da avaliação individual sobre quanto precisa guardar
para manter o padrão de vida após deixar o mercado de trabalho.
“Dado
o rápido envelhecimento da população brasileira, os esforços para aumentar a
conscientização sobre a necessidade de provisão privada para idosos devem ser
intensificados, especialmente no contexto de que, segundo o FMI [Fundo
Monetário Internacional], a taxa bruta de poupança no Brasil é relativamente
baixa comparada a de outros países da região e a de países com o mesmo nível de
PIB [Produto Interno Bruto] per capita ou perfil etário”, explica Michaela.
Uma
proposta para ajudar na mudança desse cenário é o governo oferecer deduções
fiscais ou subsídios financeiros para tornar a economia da velhice mais
atraente para pessoas com baixos salários. Em 2019, para dar sustentabilidade
as contas públicas, o governo brasileiro promoveu uma abrangente reforma das
regras de aposentadoria e pensões no país. Uma das principais mudanças foi o
estabelecimento de uma idade mínima de aposentadoria de 62 anos para mulheres e
65 anos para homens.
Na
avaliação da economista, a reforma aprovada foi na direção certa, mas, para
garantir que o sistema acompanhe os desafios demográficos, outras etapas podem
ser necessárias. Ela diz que, dado o envelhecimento da população, aumentar a
idade da aposentadoria de acordo com os ganhos em uma expectativa de vida
adicional tornaria o sistema de pensões ainda mais sustentável. Além disso, reforçou
a necessidade de melhoria do acesso aos serviços financeiros e a promoção para
investimento em previdência privada.