Santander moderniza área de seguros
Decisão foi tomada depois que a pandemia de covid-19 acelerou a evolução digital
Valor Econômico - 09 de Julho de 2020O Valor Econômico informa que o Santander Brasil vai investir R$ 90 milhões nos próximos três anos para reformular a área de seguros, operada no país e na América Latina via uma joint venture com a suíça Zurich. A decisão foi tomada depois que a pandemia de covid-19 acelerou a evolução digital, reduziu o fluxo das agências e jogou holofotes para a necessidade de modernização de plataformas e sistemas em meio a um mercado em iminente transformação.
À
frente do projeto está Marcelo Labuto, ex-presidente do Banco do Brasil, que
tem passagem pela BB Seguridade e que chegou ao Santander em abril para a
diretoria de varejo, mas logo se deparou com os escritórios vazios devido à
quarentena. Ao seu lado na empreitada de reformular a área de seguros está
Felipe Bottino, que antes era executivo-chefe da Pi, a plataforma de investimentos
do banco.
“O
Santander entende que o setor de seguros é uma grande oportunidade, porque tem
uma complementariedade muito grande com o negócio bancário”, afirma Labuto, em
sua primeira entrevista desde que chegou ao banco. “A grande questão, no entanto,
é que a instituição financeira tem uma base de clientes fantástica, mas que é
carente de negócios de seguros.” Os dados mostram que a área de seguros
responde por 5% da receita total do Santander Brasil, enquanto no Bradesco, por
exemplo, chega a 14%.
No
mercado brasileiro de seguros, a Zurich Santander tem uma participação de 3,8%,
ante aproximadamente 10% da instituição financeira no crédito bancário. Labuto
não abre suas metas, mas diz que a área tem muito espaço para crescer dentro do
Santander. “Queremos atrair clientes que fazem parte do conglomerado, mas que
não são correntistas, como da Olé Financeira, WebMotors e da plataforma digital
Sim.”
Depois
de desenvolver seu ecossistema próprio, a ideia é que, em um segundo momento,
sejam oferecidas as apólices em “mar aberto”, isto é, sem se restringir ao
balcão do banco. O executivo afirma que a modernização da plataforma também é
uma maneira de se preparar para a competição com as insurtechs, as startups da
área de seguros.
“Queremos
ter mais agilidade e flexibilidade para conseguir colocar um produto no mercado
e customizar a oferta.” Sobre a possibilidade de parcerias ou mesmo aquisições
desses novos entrantes, ele diz que não há nada no radar.
“É
sempre um item a ser avaliado, mas já temos muita coisa desenvolvida. Sempre é
preciso avaliar o custo benefício, o time to market, de adquirir uma rival ou
investir internamente.”
Os
investimentos na plataforma serão feitos pela Zurich Santander Brasil Seguros e
Previdência. A modernização não envolve nenhuma mudança societária na parceria
com a Zurich. O acordo do Santander com a seguradora foi anunciado em 2011 e
tem prazo de 25 anos, prevendo exclusividade no balcão do banco.
Questionado
se a exclusividade faz sentido em um ambiente de “open banking”, Labuto diz que
a oferta decorrente da parceria é bastante completa, mas ressalta que o foco é
o cliente. “As empresas, de forma geral, terão de ser mais flexíveis e mais
abertas. No fim do dia, prevalece ter o relacionamento com o cliente a ter
ofertas exclusivas de produção nossa”, afirma Labuto.
Ele
cita como exemplo a plataforma AutoCompara, que, apesar de ser do banco, aponta
automaticamente para o cliente ofertas de sete seguradoras diferentes. “Se eu
não tiver um produto que atenda a expectativa do cliente, naturalmente passa
para a potencial oferta de um produto de terceiros.
Mas
até o momento não temos percebido essa necessidade.” Joga a favor da parceria,
no entanto, a facilidade na adoção de novidades implementadas em outros países.
Exemplo disso é a telemedicina. Ao observar a situação na Europa, onde a
pandemia de coronavírus começou antes da América Latina, o Santander viu que
esse serviço poderia ser um diferencial.
“Passamos
a oferecer a telemedicina aqui em parceria com o Albert Einstein para quem
adquirisse outros produtos e conseguimos fazer isso em uma velocidade
incrível”, conta o executivo. Para Victor Schabbel, analista do Bradesco BBI, o
acordo com a Zurich é bastante benéfico para o Santander, que recebe boas
comissões, mas não tem o risco de subscrição dos seguros.
“É de
fato um acordo que deixou o Santander exposto a um business atrativo e ‘capital
light’”, comenta. Em relatório recente, a consultoria Eleven apontou que o
Santander ainda tem a menor participação da receita de seguros entre os grandes
bancos, mas lembra que no fim de 2018 a instituição lançou com a HDI uma
plataforma digital para o seguro auto.