Artigo: O seguro depois da pandemia
Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão
Ninguém
tem dúvida, a pandemia está longe de acabar. O Brasil não fez a lição de casa,
então, o que vai acontecendo no mundo ainda vai demorar para acontecer aqui e
isto terá resultados ruins para a vida da Nação. Enquanto países que tomaram as
medidas impopulares necessárias para conter a velocidade do vírus começam a
abrir suas portas e retomam lentamente o ritmo dos negócios, o Brasil, que
nunca fechou direito as portas, assiste o vírus se espalhando pelo interior e
se aproxima perigosamente de números dramáticos, tanto em pessoas infectadas
como em mortes.
Estamos
na casa dos 60 mil óbitos em função da covid19, e este número deve subir mais
até o final da fase aguda da pandemia, prorrogado para fins de outubro, começo
de novembro, pelos especialistas com credibilidade.
Não
tem como ser diferente, já que as ruas estão lotadas, o isolamento social é
obra de ficção e as pessoas parecem não se dar conta, até terem alguém próximo
vitimado, de que estamos vivendo um momento dramático, fora da rotina e capaz
de causar imensos danos imediatamente e outros maiores no futuro.
Não
há mais muita coisa que possa ser feita para combater a pandemia. Ela se
espalha pelo interior do País e, fora de controle, vai cobrar caro a
imprevidência nacional e o mau exemplo que veio de cima, comprometendo as ações
para o seu enfrentamento, que começaram de forma correta, mas que, sem apoio do
governo federal, foram perdendo o foco até a abertura sem planejamento
explodir, como aconteceu três semanas atrás.
Este
vírus tem a característica de ser previsível. Exatamente duas semanas depois
dos fatos, chega a reação. Em função do que aconteceu e do que vai acontecendo
país a fora, é possível dizer que entramos num momento complicado, que deve se
estender pelas próximas semanas, com resultados ruins para os números da
pandemia.
Se
agora, de acordo com o IBGE, já temos quase 30 milhões de pessoas sem esperança
de conseguir emprego, porque a economia desacelerou e um número imenso de
empresas fechou, quebrou ou teve de demitir para não quebrar, as perspectivas
para o resto do ano estão longe de serem otimistas e o quadro para 2021 tem
tudo para continuar ruim.
Os
números do primeiro trimestre não foram bons para a maioria dos setores
econômicos. Mas o setor de seguros teve um desempenho razoável, fruto da
atividade ter seu faturamento estendido no tempo, por vários meses, depois da
contratação da apólice.
Com
certeza, o segundo trimestre já não trará um quadro parecido e a tendência é
que o terceiro e o quarto trimestres sejam piores. Não tem outra alternativa,
na medida em que a economia deve encolher em patamares elevados, comprometendo
a atividade econômica e a poupança da sociedade.
Como
o patamar de entrada em 2021 será muito baixo, qualquer suspiro da economia é
suficiente para se falar em crescimento. Afinal, sair de menos para alguma
coisa melhor é mais fácil do que crescer quando as coisas vão bem.
Isto
quer dizer que em 2021 o setor de seguros deve ter um desempenho melhor do que
em 2020, mas não deve se aproximar do que aconteceu em 2019.
Além
disso, a pandemia trará mudanças que ainda não podem ser corretamente
dimensionadas, mas que impactarão a sociedade e a economia e modificarão a
forma de viver e de fazer negócios.
Várias
atividades mudarão de perfil. Óleo e gás não devem retomar os patamares
anteriores, nem em produção nem em preço. Isso vai impactar o setor de açúcar e
álcool.
A
indústria automobilística também não deve voltar aos patamares anteriores,
comprometendo a longa cadeia que se inicia na mineração e termina nos
ferros-velhos. A idade da frota de veículos está aumentando, diminuindo o
número de carros segurados e o valor dos prêmios. Escritórios, lojas e outras
instalações devem diminuir os espaços físicos, reduzindo os valores em risco. E
o desemprego impactará a capacidade de consumo da sociedade.
Neste
cenário, é fundamental que o setor de seguros se reinvente. Com a retomada do
crescimento, o médio e o longo prazo têm tudo para serem bons. A questão é como
ultrapassar o agora.