“Healthtechs” atraem US$ 8,9 bi com novos modelos de negócios
O valor médio de financiamento em 2019, em 30 países, foi de US$ 14,4 milhões
Valor Econômico - 31 de Janeiro de 2020O Valor Econômico conta que as empresas voltadas para serviços digitais no setor de saúde, as chamadas healthtechs, vêm chamando a atenção de investidores e usuários — sejam pacientes no modelo B2C, ou hospitais, clínicas e laboratórios, no modelo B2B. Relatório do Mercom Capital Group aponta que, em 2019, o financiamento global de venture capital para o setor de saúde digital chegou a US$ 8,9 bilhões, em 615 negócios.
As empresas voltadas para a prática
de assistência médica (B2B) levantaram US$ 3,6 bilhões em 261 negócios (40%), e
as que têm foco no paciente (B2C) captaram US$ 5,3 bilhões, em 354 transações
(60%). O relatório revela que o valor médio das negociações de financiamento em
2019, em 30 países, foi de US$ 14,4 milhões, ante US$ 13,6 milhões em 2018.
Outro relatório, o Distrito
Healthtech Report, identificou a ocorrência de 36 empresas consideradas
unicórnios, com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. No Brasil, o número de
healthtechs passou de 160 em 2014, para 386 em 2019, um aumento de 141%.
Dessas, 47,6% são B2B e 39,5% voltadas a usuários e pacientes.
Entre as empresas destacadas
pelo relatório está a Memed, que, segundo o CEO Ricardo Moraes, procura reduzir
os riscos que envolvem a prescrição médica, por meio de ferramenta digital de
prescrição que evita erros de interpretação dos medicamentos.
“Diferentemente do mercado
financeiro, que foi surpreendido pelas fintechs, os grandes players do setor de
saúde estão se movimentando junto com as healthtechs. A corrida está em novos
modelos de negócio, como planos de saúde digitais que procuram resolver todos
os problemas do paciente antes que ele vá ao hospital, onde os custos são
elevados”, analisa Gustavo Araújo, CEO do hub de inovação Distrito.
O Hospital Israelita Albert
Einstein é dos mais ativos e já soma oito anos com seu programa de telemedicina
para oferta de serviços especializados a outros hospitais do país e a
plataformas da Petrobras . Foram 178 mil atendimentos, e, em algumas UTIs,
houve queda de mortalidade superior a 50%.
“Hoje temos 181 leitos,
divididos em oito UTIs, visitados remotamente por nossos médicos, mais do que
os leitos físicos do Einstein. No programa de teledermatologia, zeramos em seis
meses uma fila de 70 mil pessoas”, enumera dr. Sidney Klajner, presidente do
Einstein.
O hospital tem um programa de
inovação e já recebeu mais de 1,2 mil startups. Atualmente, a aceleradora apoia
41 empresas. Entre elas, a Anestech, que reduz a criticidade nos centros
cirúrgicos, oferecendo informação para anestesistas em aplicações mobile e com
análise de dados.
“É uma ferramenta de apoio
cognitivo que, por meio de inteligência artificial, identifica padrões e prevê
eventos adversos, melhorando a tomada de decisões imediatas durante as
cirurgias”, diz Diógenes Silva, CEO da Anestech.
A Psicologia Viva oferece
consultas on-line com psicólogos, por meio de vídeo-chamada. Edinei Santos, CEO
da empresa, explica que há requisitos de segurança, como não permitir a
gravação das sessões. “Entre os pacientes, 85% afirmam que a consulta on-line é
igual ou melhor do que a presencial, e 92% observaram melhora na vida pessoal e
na profissional”, diz.
A EPHealth é uma ferramenta de
saúde preventiva voltada para atenção primária, com aplicativo para agentes de
saúde em campo e software na nuvem para monitoramento e controle da população.
“Um total de 36 prefeituras adotou a versão paga e 3,5 mil a gratuita. Em
todas, as campanhas de saúde ficaram mais assertivas”, ressalta Pedro Marton,
CEO da empresa.
A Neoprospecta atua em
segurança do ambiente hospitalar, desenvolvendo e aplicando tecnologia de
microbioma, baseada em sequenciamento de DNA em larga escala, genômica e
bioinformática na detecção de micro-organismos para evitar infecções.
“Começamos na indústria alimentícia e criamos uma solução para a área de
saúde”, explica Luiz Felipe Valter de Oliveira, CEO da Neoprospecta.
Outra tendência são os hubs
especializados, como a Techtools Ventures , agregadora de inovação em saúde,
com modelo de rede que integra 2 mil hospitais, 50 fundos parceiros e 8 mil
startups mapeadas em todo o mundo. A empresa tem investimentos diretos e em
parceria em 56 startups.
Jeff Plentz, presidente da
Techtools, diz que o foco inicial do boom de health techs foi em soluções para
a gestão, mas ele destaca o surgimento de inovações científicas, como a
desenvolvida pela startup brasileira Brain4care. Trata-se de um método não
invasivo e pioneiro no mundo, capaz de monitorar pressão intracraniana (PIC) e
sua tendência ao longo do tempo.
A solução envolve um sensor IoT
externo encostado na cabeça do paciente, que capta alterações e condições que
antes somente poderiam ser coletadas por meios invasivos, como um cateter
inserido cirurgicamente no cérebro. Assim, é possível acompanhar a evolução
clínica de pacientes neurocríticos.