Operadoras dão novo impulso a planos individuais
Hoje, esses planos atendem menos de 20% do total de beneficiários no Brasil.
Folha de S.Paulo - 29 de Novembro de 2019A Folha de S.Paulo informa que as operadoras de planos de saúde têm tentado dar um novo impulso aos convênios individuais, que são contratados diretamente pelo consumidor. Esses planos estão sujeitos a uma regulação mais rígida do que os empresariais e deixaram de ser oferecidos por muitas seguradoras.
Das 755 operadoras em atividade
no país, 284 (quase 38%) não vendem contratos individuais. Hoje, esses planos
atendem menos de 20% do total de beneficiários no Brasil.
'Os convênios individuais
foram sendo deixados de ser ofertados pelas operadoras à medida que os
reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar passaram a não
cobrir o aumento dos custos', diz Vera Valente, diretora-executiva da
FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar).
Agora, as operadoras adotaram
algumas estratégias para tornar esses contratos mais sustentáveis, entre elas o
desenvolvimento de modelos voltados para a atenção primária, o foco em clientes
mais velhos e o uso de rede de atendimento própria.
A NotreDame Intermédica está
entre as empresas que têm buscado criar planos individuais sustentáveis.
No fim de setembro, a operadora
lançou um convênio voltado para pessoas com 50 anos ou mais, o NotreLife 50+.
Um dos pilares do novo produto é um programa de prevenção intenso.
'Pode parecer contra
intuitivo, porque são essas pessoas que tendem a usar mais os planos de
saúde', diz Irlau Machado Filho, presidente do grupo. 'Mas fizemos um
equilíbrio entre a medicina preventiva, coordenação de saúde e plano de vida
dessa pessoa a um preço justo.'
Ele afirma que o atendimento em
rede própria também permite um controle maior sobre possíveis abusos e fraudes,
elemento importante para a redução de custos.
Foi um plano dedicado para
idosos que a analista de importação e exportação Jéssica Faria de Carvalho, 30,
escolheu para a mãe, Maria das Graças Faria de Carvalho, 60.
A procura por um plano
individual durou meses. Além de tentar incluir a mãe como beneficiária de seu
plano empresarial, sem sucesso, Jéssica pesquisou pela internet e conversou com
consultores.
Durante a busca, encontrou
produtos de até R$ 2.100. O plano escolhido, da operadora Ativia, ficou em R$
636 e oferece todo o atendimento em um único hospital de São José dos Campos,
perto de Jacareí, onde Maria das Graças mora.
A Vitallis também entrou, há
cerca de dois anos, no mercado de planos para idosos. Segundo o diretor
comercial da operadora, Roberto Abou Id Dabes, o atendimento desses clientes é
personalizado.
'Sempre que há uma compra,
uma enfermeira entra em contato com o cliente, entende seu caso. Ele é inserido
em programas de acordo com suas necessidades e tem consultas periódicas com
geriatras, isentas de coparticipação.'
Na Unimed, a mudança do modelo
assistencial em busca de planos individuais mais sustentáveis começou em 2011,
quando novos produtos foram pensados para focar a atenção primária e ter um
maior controle do fluxo do paciente, segundo Orestes Pullin, presidente da
confederação de cooperativas.
Ele explica que esses convênios
partem do princípio que cada cliente tem um médico responsável. Esse
especialista organiza as necessidades do paciente e registra tudo em um
prontuário eletrônico.
Em situações não emergenciais,
o paciente consulta primeiro seu médico e, se precisar de atendimento
especializado, é encaminhado para a rede secundária. Dessa forma, evitam-se
consultas desnecessárias e pedidos de exames repetidos.
Segundo Pullin, estatísticas
mostram que essa estratégia tem se tornado mais viável do que os planos mais
tradicionais, de livre escolha.
Apesar disso, ele acredita que
a substituição total dos planos tradicionais pelos focados em assistência
primária ainda deve levar anos. 'Temos que mudar a cultura tanto dos
pacientes quanto dos médicos', diz.
Valente, da FenaSaúde, afirma
que o setor como um todo tem interesse em viabilizar a volta dos planos
individuais. 'Tanto que a FenaSaúde apresentou para debate sua proposta:
permitir reajustes específicos para cada operadora, sujeitos a auditoria
externa e análise da ANS.'
Para o diretor do Grupo
Promédica, Jorge Oliveira, a carência de planos individuais no mercado pode ser
vista como uma oportunidade para operadoras que são capazes de oferecer esse
serviço.
A Promédica lançou neste ano um
convênio voltado para a rede própria da operadora.
'Por causa do aumento do
desemprego, muitas pessoas estão prestando serviço como autônomos e se virando
na informalidade. Elas acabam tendo capacidade para comprar um plano, mas falta
oferta', diz Oliveira.