Tecnologia transforma contratação de seguros
Automação, o uso de tecnologias para análise de dados e de hábitos do consumidor estão promovendo uma verdadeira transformação no mercado de seguros
O Globo - 11 de Novembro de 2019O Globo relata que as ferramentas on-line, a automação, o uso de tecnologias para análise de dados e de hábitos do consumidor estão promovendo uma verdadeira transformação no mercado de seguros. A ideia é substituir funções desempenhadas presencialmente por humanos por robôs e inteligência artificial. A promessa é de redução de custos e burocracia, permitindo inclusive a contratação de seguro por minutos, horas e dias, além do tradicional contrato anual.
Uma das novidades do mercado é a substituição de vistorias presenciais
dos imóveis, feitas por engenheiros e técnicos, nos seguros residenciais, pelo
envio de fotos por meio de programas de computador. No caso dos seguros de
financiamentos habitacionais, o Banco Central recentemente liberou as
instituições financeiras da visita às casas. Agora a avaliação poderá ser feita
remotamente.
Todas as facilidades para contratação, no entanto, dizem os
especialistas, exigem do consumidor cuidado redobrado na contratação. Isso
porque é preciso estar atento às cláusulas de exclusão, aos meios de ativação
da cobertura e aos períodos de validade, para não correr o risco de ficar a
descoberto justamente no momento que mais se precisa.
Além disso, o consumidor deve ficar ciente que nesses novos
modelos, em alguns casos, os seus passos podem estar sendo seguidos. Trata-se
de aplicativos que dão a localização do seu celular e equipamentos que,
acoplados aos carros, mostram seu comportamento como motorista. Tudo isso pode
levar à redução ou ao aumento no preço do seguro, dependendo do risco que a
empresa avaliar que o cliente representa.
PROMESSA DE AGILIDADE
No caso de apólices de automóveis, por exemplo, em vez de levar
o carro a um posto para vistoria prévia ou a uma oficina autorizada, o cliente
pode fazer todo o processo pelo celular.
- O custo médio das apólices está caindo nos últimos anos, e um
dos fatores é a presença da automação nos processos das seguradoras - explica
Wilson Leal, diretor de tecnologia da Tokio Marine.
Nos seguros residenciais, há casos em que é possível comunicar o
sinistro totalmente on-line. O próprio morador faz as fotos do dano no imóvel e
envia para a seguradora, substituindo assim a vistoria presencial, o que
poderia levar dias.
- Demorávamos de cinco a oito dias para dar uma resposta. Agora,
o processo leva duas horas - afirma José Carlos Silva, diretor de operações de
sinistros da Zurich, acrescentando que esse tipo de facilidade está disponível
apenas para danos elétricos.
Um dos seguros mais populares no país e que vem passando por
transformações é o de celular. A procura cresceu tanto nos últimos anos que
chamou a atenção de empresas digitais e startups, que estão inundando o mercado
com novas propostas.
As chamadas insurtechs combinação das palavras
'seguro' e 'tecnologia', nos termos em inglês - usam
inteligência artificial, bancos de dados e até informações disponíveis em redes
sociais para prever o risco do cliente e oferecer um seguro personalizado.
- Como usamos muita tecnologia e análise de dados em todo o
processo, conseguimos reduzir custos e cobrir, além de furto qualificado e
roubo, o furto simples (que o mercado não cobre)- afirma Lucas Prado, fundador
da Pier.
Depois de uma experiência ruim com o seguro de celular, que a
fez desembolsar um terço do valor do produto quando foi roubada para fazer jus
a uma indenização, a executiva Marianna De Lamonica, de 34 anos, foi convencida
a fazer um novo contrato pela praticidade do seguro digital. Outro atrativo foi
o preço, R$ 94,90 mensais:
- Entrei no link do Facebook, baixei o app, preenchi um
questionário e fiz a contratação. Vivo na rua e não queria ficar desprotegida.
Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idee), negativa de
cobertura, falha de informação e descumprimento de oferta são os problemas
frequentes relacionados ao setor de seguro. Na avaliação de Igor Marchetti,
advogado do Idee, a ausência de vistoria presencial pode trazer um problema
adicional ao cliente: - Como ocorrem questionamentos por parte das seguradoras
para fazer a cobertura do sinistro, seja um acidente de carro ou um problema na
casa, deve-se lembrar que é da empresa a responsabilidade pela não realização
da vistoria presencial. Isso não pode virar um empecilho na hora que o cliente
precisa.
SÓ ALGORITMO NÃO BASTA
A Associação Brasileira de Avaliação e Perícia (Abap) acredita
que o fim da obrigatoriedade de vistoria técnica para os seguros de
financiamentos habitacionais, que garante a quitação do crédito em caso de
morte ou invalidez, também pode ser prejudicial para o consumidor
- Uma análise de algoritmos e não presencial não pode avaliar
toda a estrutura do imóvel e garantir a segurança, como fazem engenheiros e
arquitetos. Verificamos imóveis com irregularidades elétricas, risco de
inundação - afirma Karine Moreira, presidente da Abap.
Se o caso for parar na Justiça, o ônus da prova será sempre da
empresa, como determina o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
- A tecnologia pode ajudar, mas não vai ser determinante. A
avaliação do engenheiro ainda tem um peso maior. No entanto, trata-se de um
caminho sem volta- diz Lincoln Peixoto, presidente da Comissão de Seguro
Habitacional da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).