Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O SEGURADO QUER SER MAIS DIGITAL?
Recente pesquisa apresentada no evento “CQCS Insurtech & Inovation 2022” dá conta de que 70% dos segurados mudariam de seguradora para terem uma experiência mais digital. É um dado importante. 28 de Outubro de 2022Recente pesquisa apresentada no evento “CQCS Insurtech & Inovation
2022” dá conta de que 70% dos segurados mudariam de seguradora para terem uma
experiência mais digital. É um dado importante. O setor de seguros, até agora,
tem se mostrado mais ou menos refratário ao modelo digital de negócios. Na base
disso está um certo conservadorismo da atividade, além da falta de
investimentos na automação da operação como um todo.
Muita coisa já é feita digitalmente, notadamente o relacionamento entre
as seguradoras e os corretores de seguros. Informações, documentos, avisos
acontecem no universo da internet, e-mails e WhatsApp, o que dá velocidade à troca
de informações, facilitando e acelerando as medidas e providências que devam
ser tomadas.
Mas a contratação digital dos seguros ainda está longe de atingir um
patamar elevado. A grande maioria da contratação das apólices ainda acontece
presencialmente ou por telefone. A contratação digital ainda está distante de
atingir números significativos, o que faz o resultado da pesquisa supra causar
certa surpresa.
Se 70% dos segurados estariam dispostos a trocar de seguradora para ter
uma experiência mais digital, o que tem atrasado esse movimento? Não é possível
que as seguradoras não tenham informações semelhantes ou no mínimo muito
parecidas. Ora, se elas sabem que a maioria dos segurados gostaria de contratar
seus seguros digitalmente, o que as impede de atendê-los?
É uma pergunta que pode levar a vários desdobramentos e respostas não
necessariamente iguais. Cada companhia de seguros tem sua política comercial e,
dentro dela, seus canais de distribuição de seguros. Se um bom número ainda
prefere colocar seus produtos de forma “analógica”, através de contato
presencial ou telefônico, principalmente com o corretor de seguros, os números
da pesquisa mostram que elas estão na contramão da vontade do segurado, o que
permite inferir que estariam perdendo negócios porque não oferecem a forma de
contratação de seguros preferida pela maioria dos consumidores.
Apenas como provocação, já que a pesquisa, como toda pesquisa, não
atingiu todos os segurados, mas apenas uma amostra representativa, cabe
perguntar quem vai atirar a primeira pedra. As seguradoras, alegando que os
corretores não estão preparados, ou os corretores, alegando que as seguradoras
não estão preparadas?
Antes de polarizar a discussão, vale analisar a realidade do setor de
seguros brasileiro. A primeira verdade – que tem impacto em todas as outras
afirmações – é que o país não é famoso pelo alto índice de contratação de
seguros. Ao contrário, grande parte da população não tem qualquer tipo de
apólice e bom número dos seguros existentes é oferecido pelas empresas para
seus colaboradores. Como se não bastasse, as diferenças regionais impactam a
forma de fazer negócios. Existem regiões com alto índice de informatização e
outras com números bem menores.
Diante disso, não causa espanto 70% dos segurados desejarem uma coisa e o
mercado oferecer outra. Em todo caso, a informação vale como reflexão.