Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
CRISE, FOME, VIOLÊNCIA E SEGURO
Em 2020 o Brasil entrou numa crise complicada, em cima de outra crise da qual começava a sair. 17 de Abril de 2022Em 2020 o Brasil entrou numa crise complicada, em cima de outra crise da
qual começava a sair. O governo do PT entregou o país devastado pela
incompetência e pela corrupção. O vice-presidente, Michel Temer, ao assumir a
presidência da república, fez um trabalho de mestre e em dois anos conseguiu
resgatar as boas qualidades da sociedade e da economia nacional, interrompendo
a queda desenfreada que vinha arrebentando as boas práticas implantadas depois
do Plano Real.
O problema é que o governo que o seguiu, democraticamente eleito,
prometendo combater a corrupção e implementar as reformas que faltavam para
completar o trabalho de resgate e dar ao país condições modernas de competitividade
não fez isso. Ao contrário, loteou a máquina pública federal, atraindo partidos
de todos os tamanhos e pessoas de todas as origens, em troca da distribuição de
cargos e vantagens para ter o apoio indispensável para manter as investigações de
atos irregulares afastadas da Esplanada dos Ministérios.
O que ninguém esperava é de repente o mundo fosse assolado por uma
pandemia devastadora, que o presidente da república chamou de “gripinha” e que
matou até agora, mas de seiscentos e sessenta mil brasileiros.
A crise decorrente da pandemia cobrou um preço caro que teve como
principal consequência o aumento da miséria, com dezenas de milhares de
brasileiros sendo jogados, literalmente, nas ruas das grandes cidades, porque
não tinham mais onde morar.
De acordo com números oficiais, o país tem hoje mais de cem milhões de
cidadãos vivendo com até um salário-mínimo por mês e mais de quarenta milhões
vivendo com menos de duzentos reais por mês.
É um quadro dramático que tem como consequência o aumento lógico e natural
da violência em todas as suas formas. Começando pela fome e pela destruição da
dignidade, duas formas extremas de violência contra o ser humano, o que se vê
hoje nas ruas do país assusta e leva a desdobramentos terríveis.
A desestruturação familiar, a perda do domicílio - morar nas ruas,
debaixo de pontes e viadutos, gera automaticamente outras formas de violência
que impactam todas as estatísticas sociais e não apenas os números que afetam a
classe média. A desmotivação, a vergonha e a humilhação levam ao aumento do
consumo de drogas e álcool; o esgarçamento dos laços familiares e das noções de
respeito levam a atos de violência física, a assaltos e agressões; e a perda dos
parâmetros morais mínimos indispensáveis para preservar o corpo social cria o cenário
perfeito para a degradação da pessoa.
Daí para a frente, o crime surge como resposta para parte destes
problemas. Quer como forma de financiar o vício, como forma de conseguir
recursos para comprar alimentos, como vingança contra quem também é vítima do
processo, a violência se torna parte do cotidiano das pessoas e cobra um preço
absurdo, na sequência de ocorrências escabrosas que invariavelmente enlutecem e
envergonham a sociedade. Neste cenário, não há o que fazer. O seguro vai
obviamente custar mais caro.