Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
NAVEGANDO EM ÁGUAS AGITADAS
Especialistas têm falado na recuperação da economia nacional em patamares até cinco por cento. É um número impressionante, até porque, antes da pandemia, o crescimento era de um por cento. 06 de Agosto de 2021Especialistas têm falado na recuperação da economia nacional em patamares
até cinco por cento. É um número impressionante, até porque, antes da pandemia,
o crescimento era de um por cento. De outro lado, se tomarmos como base o
encerramento de 2020, cinco por cento faz sentido, mas, se comparado com o
desempenho brasileiro antes da crise gerada pelo governo Dilma Rousseff,
veremos que o número não é tão impressionante. Ao contrário, vai mostrar um
resultado mesquinho e que, calcado numa análise mais profunda da situação
econômica-social brasileira, não inspira muita confiança na sua manutenção ao
longo de 2022.
Se, de um lado, o aquecimento das atividades econômicas se mostra consistente,
de outro, a inflação em elevação, o altíssimo desemprego, o número de pessoas
em situação de vulnerabilidade social ou muito próximas dela são barreiras
capazes de comprometer o bom desempenho previsto.
A pandemia não está domada e a variante Delta é uma ameaça concreta a
todas as nações. A China está fechando cidades, Tokio está em seu pico mais
alto, os Estados Unidos estão preocupados com sua capacidade de contágio e a
Europa começa a rever as medidas de liberação das restrições impostas às suas
populações.
Enquanto isso, seguimos com vinte por cento dos brasileiros efetivamente
imunizados. Não adianta dizer que metade da população tomou a primeira dose da
vacina, se a imunização só acontece após a aplicação das duas doses. A exceção
é a vacina da Janssen, que é dose única, mas representa um número muito pequeno
das vacinas aplicadas no Brasil.
Com a variante Delta se espalhando pelo país e com o baixo índice de
imunização, cientistas estão falando inclusive na volta dos patamares de óbitos
diários de alguns meses atrás. Se isso acontecer, o crescimento econômico será
bombardeado também pelo novo ciclo da pandemia. E a soma de todos os fatores
elencados tem potencial para comprometer as previsões.
Para quem acha que acabou, que já está bom para tirar o sono das pessoas,
tem mais e o mais é extremamente perigoso. A crise hídrica é suficiente para
mostrar que o quadro é muito delicado.
Mas tem um lado mais sério ainda. A briga de cachorro grande em volta de
temas políticos, as descobertas da CPI da covid, o enfrentamento dos demais Poderes
de forma desnecessária pelo Executivo fazem o país andar no fio da navalha. E a
deterioração das contas públicas somada a projetos de lei que aumentam as
despesas de forma irresponsável só piora a situação. Para fechar o cerco, a
eleição de 2022 está no centro das atenções e por ela o céu é o limite.
No meio dos turbilhões que sacodem a pátria, o setor de seguros tem tido
um desempenho acima da média nacional. E tem tudo para crescer. Mas, para que
isso aconteça, são necessárias ações para que o rol de ameaças que pairam sobre
nossas cabeças seja transformado em chuva criadeira, capaz de irrigar a
economia e modificar a realidade socioeconômica.
Alguns números são evidentes e sua análise não requer bola de cristal. A
produção de veículos zero quilômetro está comprometida pela falta de
componentes e este quadro não deve se modificar no curto prazo. É um dado que
impacta negativamente uma das principais carteiras de seguros do país. A queda
da venda de carros novos significa a queda de faturamento das seguradoras. Mas
o mesmo fenômeno também tem um impacto positivo, na medida em que a venda de
carros usados está aquecida e o valor unitário está alto, aumentando o valor
dos prêmios.
No campo da proteção das pessoas, o seguro de vida, os planos de saúde
privados e a previdência complementar podem crescer, mas para isso é
indispensável reduzir o desemprego, o número de pessoas em situação de
vulnerabilidade e as desigualdades sociais.
Os planos de saúde privados têm perto de cinquenta milhões de
beneficiários porque este é o número de pessoas que pode contratá-los. E a
regra vale para todos os outros seguros. Apenas um quarto da população tem
condições de ser segurada. A grande questão é como mudar isso, especialmente
num momento tão complicado.