Antonio Penteado Mendonça
Antonio Penteado Mendonça

Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras

NAVEGANDO EM ÁGUAS AGITADAS

Especialistas têm falado na recuperação da economia nacional em patamares até cinco por cento. É um número impressionante, até porque, antes da pandemia, o crescimento era de um por cento. 06 de Agosto de 2021

Especialistas têm falado na recuperação da economia nacional em patamares até cinco por cento. É um número impressionante, até porque, antes da pandemia, o crescimento era de um por cento. De outro lado, se tomarmos como base o encerramento de 2020, cinco por cento faz sentido, mas, se comparado com o desempenho brasileiro antes da crise gerada pelo governo Dilma Rousseff, veremos que o número não é tão impressionante. Ao contrário, vai mostrar um resultado mesquinho e que, calcado numa análise mais profunda da situação econômica-social brasileira, não inspira muita confiança na sua manutenção ao longo de 2022.

Se, de um lado, o aquecimento das atividades econômicas se mostra consistente, de outro, a inflação em elevação, o altíssimo desemprego, o número de pessoas em situação de vulnerabilidade social ou muito próximas dela são barreiras capazes de comprometer o bom desempenho previsto.

A pandemia não está domada e a variante Delta é uma ameaça concreta a todas as nações. A China está fechando cidades, Tokio está em seu pico mais alto, os Estados Unidos estão preocupados com sua capacidade de contágio e a Europa começa a rever as medidas de liberação das restrições impostas às suas populações.

Enquanto isso, seguimos com vinte por cento dos brasileiros efetivamente imunizados. Não adianta dizer que metade da população tomou a primeira dose da vacina, se a imunização só acontece após a aplicação das duas doses. A exceção é a vacina da Janssen, que é dose única, mas representa um número muito pequeno das vacinas aplicadas no Brasil.

Com a variante Delta se espalhando pelo país e com o baixo índice de imunização, cientistas estão falando inclusive na volta dos patamares de óbitos diários de alguns meses atrás. Se isso acontecer, o crescimento econômico será bombardeado também pelo novo ciclo da pandemia. E a soma de todos os fatores elencados tem potencial para comprometer as previsões.

Para quem acha que acabou, que já está bom para tirar o sono das pessoas, tem mais e o mais é extremamente perigoso. A crise hídrica é suficiente para mostrar que o quadro é muito delicado.

Mas tem um lado mais sério ainda. A briga de cachorro grande em volta de temas políticos, as descobertas da CPI da covid, o enfrentamento dos demais Poderes de forma desnecessária pelo Executivo fazem o país andar no fio da navalha. E a deterioração das contas públicas somada a projetos de lei que aumentam as despesas de forma irresponsável só piora a situação. Para fechar o cerco, a eleição de 2022 está no centro das atenções e por ela o céu é o limite.

No meio dos turbilhões que sacodem a pátria, o setor de seguros tem tido um desempenho acima da média nacional. E tem tudo para crescer. Mas, para que isso aconteça, são necessárias ações para que o rol de ameaças que pairam sobre nossas cabeças seja transformado em chuva criadeira, capaz de irrigar a economia e modificar a realidade socioeconômica.

Alguns números são evidentes e sua análise não requer bola de cristal. A produção de veículos zero quilômetro está comprometida pela falta de componentes e este quadro não deve se modificar no curto prazo. É um dado que impacta negativamente uma das principais carteiras de seguros do país. A queda da venda de carros novos significa a queda de faturamento das seguradoras. Mas o mesmo fenômeno também tem um impacto positivo, na medida em que a venda de carros usados está aquecida e o valor unitário está alto, aumentando o valor dos prêmios.

No campo da proteção das pessoas, o seguro de vida, os planos de saúde privados e a previdência complementar podem crescer, mas para isso é indispensável reduzir o desemprego, o número de pessoas em situação de vulnerabilidade e as desigualdades sociais.

Os planos de saúde privados têm perto de cinquenta milhões de beneficiários porque este é o número de pessoas que pode contratá-los. E a regra vale para todos os outros seguros. Apenas um quarto da população tem condições de ser segurada. A grande questão é como mudar isso, especialmente num momento tão complicado.