Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGUROS, CAUSA E EFEITO
A pandemia do coronavírus desestabilizou a economia mundial, jogando o planeta numa gangorra alucinada, onde as variáveis envolvidas impactaram de alguma forma negativa todas as nações. 02 de Abril de 2021A pandemia do coronavírus desestabilizou a economia mundial, jogando o
planeta numa gangorra alucinada, onde as variáveis envolvidas impactaram de
alguma forma negativa todas as nações. Alguma sofreram mais, outras menos, mas
nenhuma passou incólume pelo ano de 2020, e a possibilidade do repique em 2021
ainda não está descartada. É bom não esquecer que os prognósticos para o ano
foram feitos no fim do ano passado, quando a segunda onda da pandemia ainda não
estava corretamente dimensionada, até porque ainda estava incipiente, o que
tornava extremamente difícil avaliar a extensão dos danos que ela viria a
causar.
Ela ainda não foi debelada e já se fala numa terceira onda, que está às
portas da Europa e que tem como dado novo as novas formas do vírus, decorrentes
das mutações pelas quais passou, notadamente a cepa sul-africana e a cepa
brasileira, ainda pouco conhecidas, apesar de já se saber que são mais
contagiosas do que a cepa original.
Conversando com um grande médico paulista, fiquei sabendo que, além delas,
já foram identificadas mais de oitocentas novas cepas. A maioria não traz
qualquer novidade ou diferença significativa em relação ao coronavírus original,
que se espalhou ao longo de 2020. Mas algumas sofreram mutações que podem
causar danos sérios, tanto por serem mais contagiosas e mais letais, como
imunes às vacinas existentes. Ainda é cedo para se saber a extensão dos danos
que podem causar, mas, neste cenário, a realidade brasileira se torna uma
ameaça para a humanidade.
Com a vacinação muito lenta e mais de duzentos milhões de habitantes, o
país pode se transformar no berçário de novos vírus, que, pelo tamanho da
população e demora na vacinação, podem sofrer mutações profundas e rapidamente
contagiar um número maior de pessoas e assim se espalhar pelo resto do planeta,
contaminando um número desconhecido de seres humanos, ainda que vacinados contra
o coronavírus.
Apesar de um rol expressivo de países estar conseguindo controlar a
pandemia em seus territórios, basicamente porque fecharam completamente as
portas e estão vacinando suas populações em ritmo acelerado, o coronavírus
continua uma ameaça à saúde das nações.
Mas, ainda que as contas fossem zeradas e a pandemia não gerasse novos
prejuízos, os estragos causados até agora são suficientes para a contabilização
de trilhões de dólares em perdas de todos os tipos e ações para proteger as
respectivas sociedades, apoiando financeiramente pessoas e empresas abatidas
pela pandemia e sem condições de tocar em frente.
Não há atividade socioeconômica que não tenha sido atingida. Para se ter
uma noção do estrago, o Brasil, em 2020, teve uma recessão de mais de quatro
por cento e ficou entre os países com melhor desempenho no ano.
Como não poderia deixar de ser, o setor de seguros, internacional e
nacional, foi severamente afetado pela pandemia. Foi afetado pelas indenizações
geradas, pelos seguros que não foram renovados e pelos novos negócios que
deixaram de ser feitos.
Surpreendentemente, o setor, no Brasil, cresceu pouco mais de um por
cento, o que pode ser considerado um resultado excepcional, diante de uma
recessão de mais de quatro por cento. As razões para isso foram a queda da
sinistralidade em praticamente todo os ramos, especialmente no primeiro
semestre de 2020, a renovação de parte dos seguros contratados e a demanda por
produtos como seguros de pessoas e planos de saúde privados, vistos como
importantes para a proteção das famílias no curso da pandemia.
Com três mil mortos por dia podendo se transformar rapidamente em quatro
mil, com o colapso do sistema de saúde e o ritmo lento da vacinação, o cenário
do ano passado não deve se repetir. Ainda que o país milagrosamente cresça – o
que é pouco provável –, a base de comparação será com 2020, ou seja, um número
muito baixo.
Os balanços das seguradoras variaram de muito bons a muito ruins. E
nenhum executivo com quem falei está esperando um ano fácil. Neste cenário,
mais do que nunca, cautela e canja de galinha podem fazer a diferença.