Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O SEGURO E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Nos últimos cinquenta anos, os eventos de origem climática mataram dois milhões de pessoas e custaram três trilhões e seiscentos bilhões de dólares. 13 de Novembro de 2020Nos últimos cinquenta anos, os eventos de origem climática mataram dois
milhões de pessoas e custaram três trilhões e seiscentos bilhões de dólares.
São dados altamente preocupantes e como a fonte é a Organização Meteorológica
Mundial, que tem credibilidade, seria conveniente os organismos internacionais
e os países levarem o quadro a sério e adotarem as precauções e medidas
necessárias para não permitir que os números se tornem ainda piores.
Ao que tudo indica, neste momento, os avanços nas políticas de combate ao
aquecimento global e, consequentemente, ao aumento dos eventos de origem
climática estão seriamente ameaçados. Apesar de uma maior consciência social e
participação das populações dos países ricos na discussão, as nações mais
poluidoras e responsáveis pela emissão dos gases que geram o aquecimento não
estão se esforçando minimamente para reduzir o ritmo do processo.
A notícia é muito ruim porque as mortes e os custos decorrentes dos
eventos de origem climática não aconteceram de forma uniforme ao longo dos
anos. Ao contrário, a velocidade tem aumentado com o passar do tempo, sendo as
perdas mais recentes muito maiores do que as acontecidas nos primeiros anos do
levantamento.
O que se observa ao redor do planeta é o agravamento da frequência e
violência dos eventos. Os furacões estão mais fortes; as tempestades tropicais
em vários lugares estão se transformando em furacões; as regiões secas estão se
espalhando; as inundações estão ganhando mais corpo e atingindo áreas onde eram
fenômenos raros; regiões em que não se tinha notícia de tornados, hoje são
atingidas por eles; explosões meteorológicas destroem áreas antes a salvo de
seus efeitos; o derretimento do gelo se acentua rapidamente em todas as partes;
etc.
Quem sabe o exemplo mais visível sejam os violentos incêndios que surgem
nas mais variadas zonas do globo, da Austrália à Europa, da Ásia às Américas,
sem esquecer a África. Não existe mais nenhum continente a salvo do fogo de
grandes proporções, como os incêndios que grassam pelo Brasil, que destruíram
enormes áreas da costa oeste norte-americana, que queimaram a Austrália e que
nos meses de verão atingem com mais força o sul da Europa.
Ainda que esses incêndios não tenham um custo alto em vidas humanas, eles
devastam a fauna e a flora nativa, além de causarem perdas de bilhões de
dólares em áreas agrícolas e urbanas destruídas.
Se todas as nações concordassem com a necessidade de interromper
imediatamente todas a fontes de poluição e aquecimento global – e realmente o
fizessem, o que é impossível -, o processo de destruição consequente dos
eventos de origem climática não se modificaria do dia para a noite e os custos
de seus efeitos continuariam subindo ano a ano, como vem acontecendo no último
meio século, até que as medidas implementadas começassem a surtir efeito.
É ação de longo prazo. As mudanças já acontecidas impactarão o cenário
pelas próximas décadas. Quem sabe, depois de meio século, se estabilizarão e,
eventualmente, mais alguns anos depois, começarão a regredir. Mas isto é
futurologia.
O setor de seguros acompanha o quadro de perto e financia alguns dos mais
importantes estudos sobre o tema. Nem poderia ser diferente. Diariamente, o
cenário se agrava e as indenizações aumentam.
Além disso, as seguradoras e resseguradoras sabem que não têm capacidade
para fazer frente ao tamanho das perdas, que se tornam cada vez maiores e mais
frequentes. E que, sem a parceria com o poder público, não há como assumir os
prejuízos, o que inviabilizaria a aceitação da maioria dos riscos, aliás, como
ocorre hoje.
O grosso dos riscos segurados está nos países desenvolvidos. Isto torna o
quadro mais desigual, já que os ricos são parcialmente reembolsados, enquanto
os pobres devem assumir integralmente as perdas, ficando cada vez mais pobres.
A pergunta é: como oferecer novas coberturas? Tanto ricos como pobres
necessitam seguros desenhados para a nova realidade. E isto é mais complexo do
que parece, até porque o cenário deve se agravar.