Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O AUMENTO DA SINISTRALIDADE NO SEGUNDO MOMENTO DA PANDEMIA
A pandemia não acabou. Ao contrário, a Europa vive uma segunda onda, puxada por um vírus modificado e mais agressivo, enquanto o Brasil segue firme na primeira onda que, de acordo com os especialistas, está longe de acabar. 06 de Novembro de 2020A pandemia não acabou. Ao contrário, a Europa vive uma segunda onda,
puxada por um vírus modificado e mais agressivo, enquanto o Brasil segue firme
na primeira onda que, de acordo com os especialistas, está longe de acabar.
A redução do número de casos e, principalmente, do número de mortos, está
fazendo com que parte da população brasileira imagine que a pandemia foi para
Marte e que é possível tocar a vida como se ela não houvesse acontecido, o que,
infelizmente, não é verdade.
Com a volta às atividades normais, os acidentes, que haviam caído para
níveis históricos muito baixos, começam a retomar os antigos índices estatísticos,
com tudo de ruim e caro que a notícia tem. Como se não bastasse, o uso dos
planos de saúde privados, represado por conta da pandemia, volta a subir, com
os segurados realizando toda uma série de procedimentos que estava represada
por medo da Covid19.
Ao longo do primeiro semestre, o número de acidentes de trânsito em todo
o país caiu para os menores índices da história recente nacional. Em São Paulo,
nunca, desde o início da aferição dos acidentes de veículos, ele esteve tão
baixo como nos primeiros meses da pandemia, quando o isolamento social foi
levado a sério e boa parte da população ficou dentro de casa.
Na mesma época, os planos de saúde privados também tiveram uma redução
significativa de seu uso pelos segurados. Por causa dos hospitais lotados com
os doentes portadores da Covid19, os titulares dos planos privados simplesmente
resolveram adiar seu uso e deixaram para depois ou desistiram de realizar toda
sorte de procedimentos não essenciais, de exames a cirurgias.
Em algum momento, o brasileiro, incentivado pela postura controversa do Presidente
da República, enjoou de ficar em casa e decidiu que podia retomar suas rotinas
sem maiores cuidados, jogando a pandemia na conta já alta das fatalidades que
encarecem a nossa vida.
O processo de relaxamento foi rápido e, quase que do dia para a noite, as
ruas voltaram a ficar cheias, o trânsito retomou seu espaço e as
irresponsabilidades voltaram a castigar as pessoas inocentes, vítimas da manutenção das
práticas negativas que cresceram nos meses em que as vias e calçadas ficaram
praticamente vazias.
O resultado da nova realidade pode ser visto na quantidade de carros e
pessoas que circulam pelas cidades brasileiras, usando todos os tipos de
locomoção pública e privada. Como não poderia deixar de ser, mais carros nas
ruas significa mais acidentes e foi isso que aconteceu. Os acidentes de
trânsito estão em ascensão, voltando a ser um problema para as redes de
emergência, que, depois das UTI’s lotadas com o coronavírus, passam a ter que
lidar com as vítimas do trânsito, que voltaram a encher os corredores dos
prontos-socorros.
Este movimento vai impactar negativamente o desempenho das seguradoras
focadas em seguros de veículos e planos de saúde privados. Se, no primeiro
semestre, seus balanços refletiram positivamente a queda das indenizações, a
partir de agora, o aumento rápido da utilização dos planos de saúde privados
para atender casos não relacionados à pandemia e a volta dos acidentes de
trânsito para patamares próximos dos do começo do ano vão onerar seus
resultados e piorar os números de 2020.
A interrogação que fica é o que vai acontecer em 2021. A recuperação
brasileira tem sido impressionantemente rápida. Alguns indicadores apontam a
volta para números pré-pandemia e várias análises indicam que a recessão será
menor do que incialmente imaginada.
Mas o desemprego continua alto e o país está na beira do abismo, com o
déficit fiscal podendo assumir proporções inquietantes para o futuro da
economia. Além disso, a inflação deve dar um salto forte, indo de 2% para mais
de 3,5% em 2021.
Ainda é cedo para dizer o que quer que seja, mas já é hora de se tomar
cuidado. O que vem pela frente é para profissionais.