Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGUROS SEM FUTUROLOGIA
O ano de 2020 está se mostrando muito mais complicado e negando o que estava previsto em janeiro. 16 de Outubro de 2020O ano de 2020 está se mostrando muito mais complicado e negando o que
estava previsto em janeiro. A pandemia fez estragos em todas as nações, em todos
os blocos de comércio e na globalização como um todo. O que deveria ser,
simplesmente não foi. E o avesso ocupou espaços inacreditáveis, não
necessariamente com resultados negativos.
O atrelamento automático e submisso do Brasil aos Estados Unidos deveria
gerar no mínimo um acréscimo importante na nossa balança econômica. Sem isso,
não tem sentido abrir mão de uma longa história de independência diplomática,
baseada na vontade das nações e na não intromissão em assuntos que não nos
dizem respeito. Todavia, foi o que aconteceu e o resultado da aventura foi o
mais pífio dos últimos onze anos de relações bilaterais.
De outro lado, as relações com a China, que tinham tudo para se
deteriorarem em função de ações pouco inteligentes de autoridades brasileiras,
estão bombando e as importações da potência asiática são um guarda-chuva seguro
para os números nacionais, seriamente abalados pelo coronavírus e suas
consequências.
As duas faces da mesma moeda mostram o contrário do que seria esperado. A
alardeada amizade presidencial com a grande potência mundial resultou em
provável déficit recorde nas contas entre os dois países, enquanto as
malcriações com a China não interferiram nos negócios entre as duas nações, com
o Brasil exportando muito mais do que o cenário mais otimista poderia prever,
ao ponto de o mercado interno estar desabastecido de produtos que fazem parte
da rotina alimentar do brasileiro.
Recente estudo publicado pelo Itaú Unibanco dá conta de que, em quatorze
setores econômicos analisados, apenas quatro apresentam recuperação
significativa. Os demais ou estão andando de lado ou simplesmente continuam
encalacrados na crise e sem sinais mais fortes de recuperação.
Importante salientar que o setor mais dinâmico é justamente o agronegócio
e sua pujança é puxada pelas importações chinesas. Quer dizer, não fosse a
China uma nação extremamente pragmática, o Brasil poderia estar numa situação
mais delicada e metido numa crise mais profunda.
Graças a este desempenho, as avaliações sobre a recessão nacional foram
revistas e o novo cenário, ainda que bastante negativo, é mais positivo do que
o anterior, com as projeções falando em menos 5,8% em vez dos menos 10%
anteriormente previstos.
Outra incógnita é o que vai acontecer quando o auxílio emergencial deixar
de ser pago. Algumas previsões indicam que, sem ele, o país não aguenta manter
a recuperação em curso, fruto do consumo das famílias e das exportações do
agronegócio e de minérios.
É certo que alguns setores importantes para o faturamento da atividade
seguradora terão desempenho extremamente fraco, como é o caso da indústria
automotiva, com uma queda estimada em 35% em relação à produção do ano passado.
Também não é de se esperar um desempenho forte de setores tradicionais, como a
indústria têxtil.
Este quadro tem impacto direto no desemprego, que permanece em patamares
elevadíssimos, mesmo com a pequena recuperação a que vamos assistindo. A
situação é dramática, a miséria cresce e alguns especialistas estão seriamente
preocupados com o que pode acontecer no ano que vem.
Como planejar as ações estratégicas de uma companhia de seguros dentro
deste cenário? A atuação dos corretores de seguros é mais direta e mais próxima
do cidadão, então é mais fácil corrigir rumos e enveredar por novos caminhos.
Mas como dar esta agilidade para uma seguradora, que depende do desempenho de
outros setores econômicos para colocar produtos com maturação relativamente
lenta, desenvolvidos num momento em que o avesso do avesso ocupa o espaço do
que seria lógico?
O que vem depois? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Toda crise
gera oportunidades, mas como avaliar corretamente o que pode acontecer no
futuro? Como prever o que vai acontecer no campo político? Nas relações
internacionais? Na segurança jurídica? Futurologia não é resposta. Mais do que
nunca, é hora de calma, cautela, sangue frio e muita, mas muita, análise. Um
passo em falso pode ser fatal e neste momento as trilhas estão encobertas.