Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGURO DE VIDA, PLANO DE SAÚDE E PANDEMIA
A pandemia do coronavírus tem alguns aspectos interessantes, que merecem reflexão. 28 de Agosto de 2020A pandemia do coronavírus tem alguns aspectos interessantes, que merecem
reflexão. São situações inusitadas, contraditórias ou inesperadas que geram
consequências as mais diversas, nos mais diferentes campos socioeconômicos.
A primeira e mais importante de todas as heranças do coronavírus é a
crise econômica que compromete o desempenho de praticamente todos os países. Não
tem como ser diferente, 2020 será um ano de resultados muito ruins para a
economia global. Tanto faz a nação, todas, sem exceção, perderão ao longo dele.
Alguns governos dirão que, entre mortos e feridos, deram a volta por
cima, mas na maior parte das vezes é balela, conversa para boi dormir ou
enganar o eleitorado. A triste realidade é bem diferente e aponta uma redução
cavalar da atividade econômica, tanto faz o continente ou a nação. Ao que dizem,
a China será menos afetada e quem sabe consiga fechar o ano com algum
crescimento. Já os demais países devem seguir no rumo da recessão e da queda do
PIB (Produto Interno Bruto), com todas as consequências daí advindas.
Quebradeira de empresas, desemprego, empobrecimento da sociedade, queda nos
padrões de vida.
O setor de seguros não passará ao largo dos estragos. A crise impacta
todas as atividades e o setor não é exceção à regra. Até o momento, de acordo
com o levantamento de uma consultoria suíça, as seguradoras e resseguradoras,
globalmente, já reportaram sinistros da ordem de vinte bilhões de dólares. E a
tendência é este número continuar a subir, sem que seja possível se fazer uma
previsão acurada de qual será o total das indenizações no final da pandemia.
A razão desta dificuldade é o comportamento errático do vírus e o
desconhecimento quase que total dele e de sua evolução. Várias “quase certezas”
sobre a covid19 já foram ou vão sendo desmentidas pelos fatos. Inclusive a
afirmação de que quem contrai a doença fica imune e, portanto, livre de voltar
a contraí-la. Parece já haver casos de uma segunda contaminação da mesma
pessoa.
No Brasil, o setor de seguros vive um momento particularmente complexo. É
verdade que houve a queda da sinistralidade em carteiras como seguros de
veículos e planos de saúde privados. Mas também é verdade que há a queda do
faturamento pela diminuição da contratação de seguros novos e da renovação das
apólices e pelo aumento do inadimplemento dos segurados.
Em compensação, o aumento das mortes pela pandemia - que foram aceitas
como cobertas pelas seguradoras - e o crescimento do número de homicídios pode
impactar os seguros de vida. Ainda que este impacto não seja avassalador,
porque a maioria dos mortos pela covid19 e vítimas de homicídios não têm
seguros, não há como se deixar de considerar as estatísticas, até porque o
aumento do desemprego traz consigo a redução do número de segurados e a
consequente queda do faturamento.
Várias operadoras de planos de saúde privados tiveram desempenho
interessante. Apesar dos planos cobrirem o atendimento da covid19, eles deram
lucro no primeiro semestre, muitas vezes com resultados melhores do que no
final do ano passado. A explicação não é difícil. A pandemia trouxe com ela o
medo das pessoas procurarem os hospitais, consultórios e unidades de saúde. O
resultado foi o cancelamento ou o adiamento da maioria das consultas e
procedimentos eletivos, aqueles que, apesar de importantes, não são urgentes e
podem ser realizados depois do pico do coronavírus.
O problema, como já pode ser visto na rede pública de saúde, é que, com a
aceitação da pandemia como mais uma mazela na vida do brasileiro, as pessoas
estão retomando as rotinas suspensas com a chegada do coronavírus e remarcando
os procedimentos eletivos e isso já está sobrecarregando a rede do SUS.
O quadro deve se repetir no universo dos planos privados. Com a liberação
dos casos represados somada aos casos novos haverá o aumento das despesas. Como
se não bastasse, a crise está reduzindo o número de segurados e o faturamento.
O momento é de muito cuidado. Dependendo da ação, a empresa pode ganhar
ou perder.