Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGUROS - O DEPOIS SERÁ MUITO COMPLICADO
Em artigo primoroso, o professor José Pastore colocou com rara felicidade o que está acontecendo e quais serão as consequências da pandemia do coronavírus na vida brasileira. 10 de Julho de 2020Em artigo primoroso, o professor José Pastore colocou com rara felicidade
o que está acontecendo e quais serão as consequências da pandemia do
coronavírus na vida brasileira. É um retrato triste, cuja realidade necessita
ser enfrentada com todas as armas à disposição da nação e com a transparência
indispensável para a população não se sentir traída e abandonada, sob risco de,
em não o fazendo, a situação nacional se deteriorar ainda mais.
Não há a menor chance de se reverter o quadro dramático da crise de 2020.
O ano será um dos piores da história brasileira em todos os tempos. A situação
é devastadora para milhares de empresas que já fecharam as portas e será ainda
mais complicada para outros milhares que fecharão ao longo do ano e mesmo no
ano que vem. É inexorável e não há ferramenta que possa reverter o quadro.
Nunca o Brasil passou por momento tão complexo, social e economicamente. O
fechamento dessas empresas está gerando o desemprego de milhões de pessoas com
carteira assinada, mas, ainda mais grave, está deixando milhões de pessoas que
trabalham na informalidade sem ocupação capaz de garantir-lhes o ganha pão.
Dado trágico é que a maioria dos informais que vão perdendo seus
trabalhos são mulheres. Não bastasse todas a dificuldades decorrentes da
pandemia, a começar pela violência doméstica e seus derivados, milhões de
mulheres que são arrimos de seus filhos não estão conseguindo faturar o mínimo
indispensável para manter suas famílias.
Outro dado preocupante é que, com o fechamento das empresas, centenas de
milhares de pessoas da classe média devem migrar para classe sociais mais
baixas e, como são profissionalmente qualificados, a frustração com a mudança
de patamar deve agravar os problemas decorrentes da perda de emprego.
Ainda no campo social, o número de moradores de rua tende a continuar
crescendo, aguçando o problema e exigindo mais das prefeituras, que estarão sem
caixa para fazer frente aos inúmeros desafios que se colocam à sua frente.
O fechamento das empresas gera o esvaziamento e a deterioração pela falta
de manutenção dos imóveis até recentemente ocupados. Em complemento a isso, o
isolamento social e o trabalho em home office mostram que as
necessidades de espaço em imóveis comerciais são muito menores do que o
usualmente praticado antes da pandemia.
O resultado pode ser visto nos avisos de grandes empresas que estão
redesenhando suas operações para que seus colaboradores continuem trabalhando
de casa, com a consequente devolução de lajes inteiras em edifícios de ponta,
que já apresentam alta metragem de espaços ociosos.
Em algum momento, a pandemia deve arrefecer. Se bem que, em função do
descaso do Brasil em relação às medidas para enfrentá-la, pode acabar sendo criado
um fato novo, qual seja, a incorporação do coronavírus de forma crônica na vida
nacional.
O cenário desenhado pelo professor José Pastore, aqui apresentado de
forma bastante resumida, levanta uma questão crucial e que necessita ser
enfrentada o mais rapidamente possível. Como fazer para sair da crise? Quais as
medidas e ações a serem implantadas para o país retomar seu crescimento, saindo
de uma base extremamente deprimida e com pouca capacidade de reação?
A resposta ainda é completamente desconhecida e qualquer opinião sobre
ela é apenas um palpite. O que é certo é que, num universo em franca recessão,
com pouca capacidade de reação e sem recursos para fazer frente ao cotidiano de
uma imensa massa de pessoas, o setor de seguros não deve esperar a rápida
retomada de seu crescimento.
E a situação de algumas seguradoras, além da queda de faturamento puxada
pela queda brutal da atividade econômica, deve se agravar mais, em função das
taxas de remuneração dos investimentos estarem próximas de zero, especialmente
no que diz respeito aos títulos públicos, com os quais elas devem constituir
suas reservas.
Como fazer para tocar em frente? Essa a resposta de um milhão de dólares
e cada empresa tem que encontrar a sua, levando em conta sua realidade e seu
potencial.