Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
E AGORA, 2020?
Até meados do ano passado, 2020 tinha tudo para ser um bom ano. 09 de Abril de 2020Até meados do ano passado, 2020 tinha tudo para ser um bom ano. As
projeções mostravam que o Brasil cresceria em torno de 2,5%, patamar
relativamente baixo, mas acima do crescimento de 2017 e 2018. E, o mais
importante, consistente.
Ninguém tinha dúvida sobre o desempenho do agronegócio, que continuaria
bombando, apesar do acordo Estados Unidos/China prever o aumento da compra de
produtos agrícolas norte-americanos pelos chineses. A mineração também deveria
continuar contribuindo significativamente para a balança comercial, garantida
pelas importações chinesas. O setor de
serviços puxava a retomada da economia, aparecendo como o campeão das
contratações de mão de obra com carteira assinada. O comércio teve um grande
Natal. E a indústria, ainda que patinando, começava a avançar, puxada pela
construção civil, se destacando como um dos setores responsáveis pela retomada
do crescimento nacional. Não tinha como dar errado. O Brasil teria um ano
positivo, o que era confirmado pela taxa de desemprego, caindo aos poucos, mas
constantemente.
A Reforma da Previdência Social era a prova de que as coisas estavam
entrando nos eixos e que os políticos e a nação convergiam na direção de fazer
as reformas indispensáveis para o país se livrar dos altos custos que impedem
que nossos produtos sejam competitivos. As próximas seriam a Reforma Tributária
e a Reforma Administrativa, que, quando concluídas, tornariam o Estado mais
leve a e carga tributária pelo menos mais organizada.
Todos os sinais apontavam para um céu de brigadeiro e mar de almirante,
restando ao país aproveitar o momento internacional, com projeção de
crescimento acima de 3%, para aumentar seu cacife para fazer de 2020 um belo
ano.
A certeza de nosso sucesso se refletia positivamente no desempenho da
Bolsa de Valores de São Paulo, batendo recorde atrás de recorde e avançando em
patamares inéditos em nossa história.
Só que não foi bem assim que as coisas evoluíram. De repente, as
projeções para 2019 não se cumpriram, o crescimento nacional ficou abaixo das
previsões. A Reforma Tributária emperrou e a Reforma Administrativa faz que
vai, mas até agora não foi. Como se não bastasse, a China foi o berço de um
novo tipo de coronavírus, que se espalhou pelo mundo rapidamente, se instalando
em mais de cem países e levando o pânico à economia mundial.
Não vem ao caso se a letalidade do vírus é baixa, apresentando perigo
basicamente para idosos e pessoas com baixa resistência imunológica. Pânico não
tem lógica, nem bom senso. Assim, se os riscos dos estragos causados pela
doença estão ou não superavaliados, tanto faz, as consequências são ruins e o
mundo as sente na pele, tanto que a OCDE reviu bem para baixo as projeções de
crescimento da economia internacional em 2020.
Mas se o coronavírus é um desastre capaz de fazer a recessão de 2008
parecer conversa de criança, as coisas ficaram piores. Numa ação com razões
pouco claras, a Arábia Saudita aumentou a produção e baixou o preço do petróleo.
Ainda é cedo para se saber o tamanho do estrago, mas se o petróleo se mantiver
nos novos patamares ou, pior, cair para vinte dólares o barril, teremos a
tempestade perfeita, formada pela expansão do coronavírus, a crise no mercado
de petróleo e os dois impactos na economia global.
O Brasil já foi afetado pelos desdobramentos internacionais. Com uma
agravante: a epidemias do coronavírus vai custar muito caro. Com o país
fechado, a economia vai entrar em recessão. Nossos fundamentos não são sólidos
para aguentar o baque. Teremos problemas de desemprego e quebra de empresas.
Exportaremos menos e corremos o risco de não conseguirmos importar os produtos
necessários para nossa economia. E as reformas podem não passar. Além disso, o Executivo,
o Legislativo e o Judiciários mostram grande dose de irresponsabilidade, o que
piora ainda mais o que já está muito ruim.
Diante da nova realidade é difícil ficar otimista. Ainda mais quando o
setor analisado é uma atividade de retaguarda, que depende do aquecimento da
economia para colocar seus produtos. 2020 será bem duro para o setor de
seguros.