Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
VAI PIORAR
A informação não é nova, nem inédita. Nas próximas semanas, a pandemia de coronavírus que assola o mundo deve ganhar intensidade no Brasil. 03 de Abril de 2020A informação não é nova, nem inédita. Nas próximas semanas, a pandemia de
coronavírus que assola o mundo deve ganhar intensidade no Brasil. O Ministério
da Saúde sabe disso, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde sabem
disso, os governadores e prefeitos sabem disso e as pessoas lúcidas sabem
disso. Não tem como ser diferente. Mas o quadro brasileiro, como foi colocado
pelo próprio Presidente da República, é diferente do de outros países,
especialmente as nações mais desenvolvidas. É aí que mora o problema: a
diferença não é a nosso favor, é contra.
Dados insofismáveis permitem dizer que o número de casos está aumentado e
que o aumento é mais rápido do que esperávamos algumas semanas atrás. No começo
da semana passada, a Santa Casa de São Paulo tinha poucas vítimas de Covid19 em
suas UTI´s, no hospital Central e no Hospital Santa Isabel. Além disso, por um
bom tempo, teve apenas uma morte.
No final da semana passada, as UTI´s estavam cheias e o número de óbitos
havia subido significativamente. Como além do coronavírus o país é palco de
outras duas epidemias – gripe e dengue -, com sintomas capazes de serem
confundidos com a Covid19, foram montadas tendas na entrada do Hospital Central
para receber as pessoas e realizar rapidamente a triagem necessária para a
adoção das providências para o atendimento dos pacientes com sintomas de Covid19.
O que está evidente é que a doença é rápida. Os quadros se agravam em
poucas horas e a necessidade de entubar o paciente vai se tornando comum nas
UTI´s, não só da Santa Casa, mas de todos os hospitais envolvidos no
atendimento das vítimas da epidemia que começa a varrer o Brasil.
Como o país não testa a maioria dos pacientes, e os casos que são
testados só têm o resultado dias depois, um grande número de pessoas é
internada, e parte delas chega a óbito, sem se saber se a causa foi ou não o
coronavírus.
Se os testes sem laudos pudessem ter os resultados confirmados
rapidamente, ficaria comprovado que o país pode ter pelo menos 12 mil casos a
mais de infectados pela Covid19 só no Estado de São Paulo. Mais triste ainda, o
número de óbitos também seria muito maior. E não há dados confiáveis nos outros
Estados.
A melhor forma de se vencer uma guerra é a informação. Saber o quadro
real das forças e fraquezas do nosso lado e as circunstâncias que as afetam é
tão importante quanto conhecer o inimigo, avaliar sua força, saber seus
movimentos e como ele age. Lamentavelmente, o Brasil não tem informações
confiáveis sobre a realidade do país.
Não tem noção do número de pessoas mais expostas, do resultado das
medidas de prevenção e, o que é dramático, do número de pessoas infectadas. O
país não sabe quantas pessoas estão doentes, quantas são transmissoras
assintomáticas do vírus, quantas precisam de atendimento mais intenso, quantas
podem ficar em casa. Também não sabe quais as regiões mais afetadas. Com esta
soma de desconhecimentos fica sem poder planejar eficientemente as providências
a serem implantadas nas diferentes regiões, os equipamentos e insumos
necessários, além de ficar vendido nas medidas que devem ser adotadas para
melhorar a logística e assim entregá-los a quem precisa em tempo hábil.
Importante lembrar que os planos de saúde privados estão fazendo sua
parte e desafogando o SUS, permitindo que a saúde pública invista seus escassos
recursos em quem realmente precisa.
Mas, justamente por estarem fazendo sua parte, atendendo seus segurados,
as operadoras de planos de saúde privados estão sofrendo a pressão de custos
que não foram previstos quando do desenvolvimento dos planos. Afinal, poucos
gestores poderiam imaginar uma pandemia como o coronavírus. Além disso, normatizações e proibições, que
não cabem ser discutidas aqui, impedem que parte das operadoras comprem
programas de proteção para suas carteiras. Assim, como boa parte dos planos não
tem limitadores de exposição a riscos, se a pandemia continuar se espalhando, em
breve poderemos ter planos de saúde privados sem caixa para atender seus
clientes.