Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
A CURVA SOBE DE UM LADO E DESCE DO OUTRO
A curva da epidemia do coronavírus é ascendente. 27 de Março de 2020A curva da epidemia do coronavírus é ascendente. Se tivermos sorte, damos
uma achatada nela, só não sei se o suficiente para evitar o caos no sistema de
saúde pública e a quebra de operadoras de planos de saúde privados.
A escalada deve se acelerar nas próximas semanas e, se tudo ficar dentro
do previsto, teremos o pico da epidemia no final de abril e maio. A questão é a
velocidade que ela vai se espalhar pelo país. Se as notícias até agora dão
conta do que está sendo feito em São Paulo, onde está concentrado o grosso dos
casos, outras regiões não têm a rede hospitalar paulistana. Mesmo no interior
do estado existem regiões com poucos recursos e, se o vírus as atingir, o
quadro pode se agravar muito.
Todavia, se comparadas com a realidade de outros estados brasileiros, as
regiões menos aparelhadas de São Paulo ainda são privilegiadas. O quadro no
norte e nordeste é extremamente preocupante. E se a verdade vale para as
capitais, é muito mais cruel no interior. Não há rede hospitalar minimamente
capacitada a fazer frente a uma pandemia com as caraterísticas da Covid19.
Como é certo que o vírus vai se espalhar e não é uma gripezinha à toa, a
situação pode ficar muito mais grave do que os alertas das autoridades têm
indicado que vai acontecer.
É olhar a rapidez com que o vírus se espalha por países mais
desenvolvidos, com condições sanitárias muito melhores, com redes de água e
esgoto eficientes, para se ter uma ideia do tamanho que o desastre pode atingir
num país como o Brasil.
Não adianta pânico, mas a verdade é que não temos muita margem de
manobra, além de impor o isolamento social para tentar reduzir a velocidade de
contaminação pelo vírus e assim evitar o colapso da rede de saúde pública e a
quebra de operadoras de planos de saúde privados, que não darão conta de suas
faturas.
A evolução da doença pode ser medida pelo que acontece na Santa Casa de
São Paulo. Alguns dias atrás, havia poucos casos de internação com suspeita de
Covid19 e, no começo da semana, apenas duas pessoas internadas em UTI. Na quinta-feira,
o número saltou para vinte pessoas, no Hospital Central, e o Hospital Santa
Isabel, que atende planos de saúde privados, viu o número de internações dobrar
a cada 24 horas.
Eu gostaria que não fosse assim, mas a Covid19 vai se espalhar pelas
periferias da cidade e da Grande São Paulo, onde as condições de propagação são
muito mais favoráveis, em razão da promiscuidade existente na maioria das
favelas, da falta de água tratada e saneamento e da escassez de leitos
hospitalares aparelhados para dar conta da demanda, se o processo de
contaminação for rápido.
Como já dito, as condições paulistanas são bem melhores do que as da imensa
maioria da nação, mas estão longe de serem as ideais. Então, a briga, Brasil a
fora, será de cachorro grande e o favorito é o vírus.
De outro lado, se a curva da pandemia tem tudo para subir, a curva da
economia e do desenvolvimento social tem tudo para descer ladeira abaixo,
jogando o país numa recessão mais grave do que a que acabamos de viver.
Em outras palavras, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Não há
muita alternativa, as medidas de combate ao vírus forçam a quase que interrupção
da economia. E, ainda que o isolamento seja por prazo relativamente curto, os
danos serão terríveis, começando pelo desemprego e pela quebra de empresas.
A única forma de minimizar o quadro é a injeção maciça de recursos pelo Governo,
como os países desenvolvidos vem fazendo, disponibilizando quantias gigantescas
para proteger os empregos, os autônomos e as micro, pequenas e médias empresas.
Mas, mesmo isso, será apenas um alívio. 2020 será um ano muito duro.