Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O IMPACTO DO CORONAVÍRUS
O coronavírus chegou para ficar, pelo menos por um bom tempo. 06 de Março de 2020O coronavírus chegou para ficar, pelo menos por um bom tempo. Desde que a
epidemia iniciada na China se tornou uma ameaça global, as autoridades de saúde
sabiam que, mais cedo ou mais tarde, o vírus atingiria o Brasil, como de fato
atingiu. As medidas adotadas pelo governo parecem ser adequadas e o que está
sendo feito está em sintonia com as ações sugeridas pela Organização Mundial da
Saúde, que inclusive avalizou formalmente as ações do Ministério da Saúde.
O coronavírus está rapidamente se espalhando pelo mundo. Todos os
continentes já têm países com pessoas infectadas e a tendência é que a expansão
prossiga, com maior ou menor intensidade, dependendo do país afetado.
As informações disponíveis dão conta de que a taxa de letalidade do vírus
é relativamente baixa, não chegando a 3% dos doentes. Todavia, este é o cálculo
sobre o número total de pessoas contaminadas. A situação muda drasticamente
quando se trata de pessoas idosas ou com baixa imunidade. Nestes grupos o
número de mortes é muito mais elevado.
Também há a hipótese do vírus preferir ambientes mais frios, o que deve
ser comprovado rapidamente, já que ao doença se espalhou também por países mais
quentes, como é o caso do Brasil. Se isto for verdade, então a epidemia
brasileira não deve ser tão intensa quanto a de países de clima frio, agravada
pelo fato de estarmos no inverno do hemisfério norte, o que explicaria a sua
rápida expansão nos Estados Unidos e Europa.
Como o vírus é novo, ainda há muito a ser descoberto sobre ele. Sua
capacidade de mutação, que parece ser elevada, seus limites, resistência,
proliferação, letalidade. Os dados atuais dizem respeito basicamente ao que aconteceu
na China, onde há sinais de que a propagação do coronavírus está perdendo
intensidade. Ou seja, as medidas adotadas pelos chineses parecem ter se
mostrado eficientes. O problema é que o resto do mundo não é a China e o que
foi feito lá dificilmente será replicado em outro país. Tanto por falta de
recursos, como por falta de um governo forte, com capacidade, por exemplo, de
fechar cidades inteiras e trancar milhões de pessoas dentro de suas casas.
Pelo que se sabe até o momento, a maioria das pessoas infectadas terá, no
máximo, os sintomas de uma “gripe”, não necessitando cuidados mais intensos.
Aliás, neste sentido, as pessoas infectadas no Brasil, até agora, estão em suas
casas e não em hospitais, o que mostra que seus quadros infecciosos são brandos.
Ainda é cedo para saber se o quadro vai permanecer assim ou se teremos
uma aceleração da epidemia, com milhares de pessoas ficando doentes e
procurando os hospitais. Aqui é importante um alerta para os boatos e achismos
que se tornaram moda no país. Não é hora de criar pânico, nem de fazer
terrorismo pelas redes sociais, espalhando notícias falsas sobre o vírus, a
epidemia e seus desdobramentos.
O Brasil é palco de uma das maiores epidemias de dengue do mundo. Para
dar uma ideia de sua violência, apenas nos primeiros meses de 2020, mais de
noventa mil casos suspeitos foram notificados e a tendência é de os números
continuarem muito altos, até pela falta de colaboração da população, que não
toma as medidas sanitárias e de higiene necessárias para reduzir os criadouros
de mosquitos.
Além da dengue, a chicungunha, a febre amarela, o sarampo, a hanseníase,
a falta de saneamento básico, o sucateamento da rede pública de saúde estão aí,
firmes e fortes, contribuindo com sua quota de óbitos.
Como, além das doenças, temos o impacto dos homicídios e mortes nos
acidentes de trânsito nas estatísticas nacionais, pode-se dizer que o
coronavírus será mais um, e provavelmente não o mais letal, entre tantos
fatores que impactam a saúde e a longevidade do brasileiro.
Onde os efeitos do coronavírus podem ser mais devastadores é na economia.
O Brasil estava lentamente saindo da crise e esperava um crescimento, baixo,
mas positivo para o ano. Com o coronavírus se espalhando pelo mundo, corremos o
risco de ver este quadro se complicar, em virtude da queda na atividade
econômica internacional.
Nenhum destes cenários é bom para a atividade seguradora.