Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
BICICLETAS MATAM OU CICLISTAS MORREM?
Pesquisa recente dá conta que o número de mortes em função de acidentes com bicicletas, em São Paulo, cresceu 64%, saltando de 22 para 36 mortos em 2019. 24 de Janeiro de 2020Pesquisa recente dá conta que o número de mortes em função de acidentes
com bicicletas, em São Paulo, cresceu 64%, saltando de 22 para 36 mortos em
2019. É um crescimento significativo e que tem impacto no negócio de seguro,
não só nas apólices de DPVAT, nos casos em que há envolvimento de veículo
automotor, mas também nos seguros de vida e acidentes pessoais, nos seguros de
veículos e nos planos de saúde privados.
O duro é que este número tende a subir. Não é preciso nenhuma futurologia
para afirmar isso. Basta olhar como os participantes do trânsito nas grandes
cidades se comportam.
O primeiro dado que precisa ser colocado na mesa é o aumento do número de
bicicletas circulando pelas ruas brasileiras. Se as magrelas eram, até há pouco
tempo, instrumentos de lazer e de locomoção para o trabalho, a cada dia que
passa, um número cada vez maior de bicicletas é usado para entregas pelas
empresas de aplicativos.
A quantidade sempre crescente de bicicletas nas ruas por si só seria
responsável pelo aumento do número de acidentes com elas. É matemática simples:
se há mais, há mais chances de acidentes acontecerem.
Mas o quadro é muito mais complexo e passa pelas barbaridades que
acontecem todos os dias nas ruas e estradas do país. A forma criminosa com que
certos motoristas dirigem, sem respeitar qualquer lei de trânsito, chegando ao
absurdo de darem macha-ré nas Marginais e trafegarem na contramão em ruas movimentadas,
é suficiente para apontar uma das causas do aumento dos acidentes com
bicicletas.
Ao não respeitarem as normas, esses motoristas colocam todos à sua volta
em risco e o risco é muito maior quando o veículo com quem eles colidem de
frente, numa conversão proibida, é uma bicicleta, em vez de um carro.
Bicicleta não tem para-choque, ou melhor, o para-choque da bicicleta é o
ciclista, invariavelmente atingido direta ou indiretamente em função de um
acidente. Seja porque ele recebe a batida, seja porque ele cai, quem sai mais
machucado é sempre o ciclista.
Eu sei porque já sofri um acidente sério pedalando minha bicicleta na
Cidade Universitária. Um automóvel estacionado em lugar proibido saiu sem dar
sinal. Eu consegui evitar a colisão, mas fui arremessado da bicicleta por conta
da brecada. O resultado foi um bom número de pontos, por dentro e por fora,
para costurar meu lábio superior, que ficou pendurado feito uma tromba.
E é aí que temos um segundo grande responsável pelos acidentes de
bicicleta: o próprio ciclista. A forma como alguns ciclistas pedalam é
absolutamente assustadora. Trafegam entre os carros, inclusive pelas Marginais,
como se não fosse com eles e todos fossem obrigados a parar para passarem do
jeito que querem, pelos espaços que querem, independentemente de caber ou não
uma bicicleta.
Mas a questão não é encontrar culpados, o problema é como controlar
melhor a forma como motoristas e ciclistas dirigem. Graças a Deus, os
alucinados são uma minoria e isso reduz bastante o potencial de acidentes.
Mesmo assim, é uma situação que precisa ser enfrentada para evitar que o número
continue a subir por causa da maior quantidade de bicicletas soltas no
trânsito.
Se a solução é reforçar a educação no trânsito, o grau de consciência de
motoristas e ciclistas, o policiamento das ruas e estradas, ela passa também
por um maior engajamento da sociedade de forma geral e das empresas atingidas
em especial.
As seguradoras têm papel importante neste cenário. O aumento dos
acidentes com bicicletas atinge diretamente a sinistralidade de suas carteiras.
Começando pelo mais óbvio, o seguro da própria bicicleta tem a sinistralidade
agravada. Mas, bem mais importante, os seguros de vida e acidentes pessoais
também são diretamente atingidos, da mesma forma que os seguros de veículos e
de responsabilidade civil facultativa, além dos planos de saúde privados. Antes
que estes números se tornem um problema, ações conjuntas com as autoridades e a
sociedade civil podem ser importantes para manter o quadro sob controle.