Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
QUADRO PREOCUPANTE
Com mais de doze mil casos em análise e três mil confirmados, o sarampo faz a primeira vítima fatal em São Paulo. 13 de Setembro de 2019Com mais de doze mil casos em análise e três mil confirmados, o sarampo
faz a primeira vítima fatal em São Paulo. É um dado assustador. O sarampo
estava erradicado do solo brasileiro há vinte anos. Retornou e entrou com tudo,
sem pedir licença, se espalhando rapidamente, ao que parece saindo de Roraima,
onde chegou trazido por refugiados venezuelanos, para tomar todo o território
nacional.
Se o sarampo fosse a única ameaça à saúde da população já seria ruim, mas
bem menos ruim do que se vê hoje no país. O Brasil tem uma situação inaceitável
no que diz respeito a várias doenças que deveriam estar erradicadas, ou
controladas, mas que correm soltas, atingindo ricos e pobres, indistintamente,
de norte a sul. Entre elas, é vergonhosa a situação da hanseníase - estamos
entre os países piores colocados no seu combate. Também a malária, esquecida
nos últimos tempos, continua cobrando sua cota de vítimas todos os anos.
A gripe, com vacinação e tudo, cresce continuadamente, enquanto o aedes
aegypti se encarrega de disseminar a dengue, a zika, a chicungunha e a
febre amarela com a sem cerimônia dos que sabem que têm o cenário ideal para
proliferar e espalhar a peste e a morte, numa imagem apocalíptica.
Este quadro lamentável não é culpa do atual governo. Não tem o menor
cabimento colocar num governo que tomou posse há menos de seis meses a culpa
pelos desmandos praticados com a saúde pública, pelo menos desde que o PSDB
ocupou a Presidência da República e criou a famigerada CPMF para salvar a
saúde, mas, mostrando sua real preocupação com o povo, nunca destinou um
centavo do imposto para melhorar as condições médico-hospitalares nacionais.
O problema é que o quadro lamentável cobra um preço altíssimo em vidas e
em recursos, que devem ser destinados para impedir que a deterioração se
agrave. Como se não bastasse, a população relaxou e, por uma razão ou outra,
não se vacina nos patamares mínimos exigidos para impedir a propagação das
epidemias.
Assim, doenças erradicas estão voltando e epidemias que já estavam aí vão
se agravando, como acontece com a dengue que, ano após ano, bate recordes e
atinge um número inacreditável de pessoas.
Os números somados das diferentes epidemias e endemias chegam na casa dos
milhões de vítimas. Não é pouco e nos coloca numa posição vergonhosa diante de
nações no mesmo grau de desenvolvimento e riqueza.
Os governantes acordaram para a situação e campanhas de vacinação vão sendo
realizadas na velocidade possível, mas sempre com resultados aquém dos mínimos
necessários, porque a população não se vacina até descobrir que pode morrer.
Então, milhares de pessoas correm atrás da imunização e, para garantir que não
pegarão a doença do momento, tomam mais de uma dose de vacina, comprometendo o
estoque existente e o sucesso da campanha.
Também há casos em que os estoques são insuficientes e as pessoas que
buscam, regularmente, serem vacinadas, chegam nos postos de saúde e dão com o
nariz na porta, porque não tem mais vacina para ser aplicada desde ontem de
manhã.
O que este cenário dramático tem a ver com seguros? Tudo. Seguro existe
para proteger a população e algumas das apólices mais comercializadas servem
exatamente para fazer frente aos custos decorrentes da doença, da morte, da
invalidez e das despesas médico-hospitalares.
Doenças significam custos diretos para os planos de saúde privados, mas
vão além e interferem na capacidade de produção das empresas, na velocidade da
economia, no dia a dia das pessoas.
Morte e invalidez aumentam o déficit da previdência social e impactam as
apólices de seguros de vida e invalidez por doença. Como se não bastasse, mais
importante do que tudo, muitas vezes levam os arrimos das famílias, comprometendo
o futuro das pessoas que dependiam deles.
Finalmente, o aumento das despesas médico-hospitalares, além de atingirem
a capacidade de atendimento do SUS, encarecem os planos privados, porque o
aumento dos casos atendidos impacta os custos das operadoras, que não têm outro
remédio senão repassá-los para seus segurados.
Diante do quadro acima, a única resposta no momento é o aumento da
preocupação de todos com algum grau de consciência social. Mas só isso é pouco
para mudar a realidade e dar ao brasileiro um padrão de vida mais digno e mais
saudável...