Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
NÚMEROS IMPRESSIONANTES
De 1970 a 2018 as catástrofes naturais que atingiram o planeta custaram mais de quatrocentos bilhões de dólares. 30 de Agosto de 2019De 1970 a 2018 as catástrofes naturais que atingiram o planeta custaram
mais de quatrocentos bilhões de dólares. E os prejuízos só não são maiores porque
boa parte dos eventos atinge países em desenvolvimento, ou seja, locais onde os
prejuízos, pela natureza dos bens e patrimônios atingidos, são menores do que
nos países ricos.
Nos últimos anos, a situação tem se agravado, com os danos crescendo em
decorrência de todos os tipos de eventos, com ênfase nos incêndios florestais
que atingem a Califórnia, Portugal, Espanha e outros países europeus, além de
enormes áreas de países como o Brasil, que, por conta do fogo queimar campos
nativos, acabam não quantificando as perdas como prejuízos.
Ninguém tem dúvidas, as mudanças climáticas estão acentuando o ritmo e o
valor das indenizações decorrentes dos eventos causados por elas. Os furacões
estão aumentando de intensidade, os tufões também, assim como as tempestades
tropicais, o granizo, os tornados, etc., que atingem áreas cada vez mais
extensas, situadas ao longo das novas rotas de destruição, que vão se alargando
com o aumento da frequência da ocorrência dos diferentes fenômenos.
Não há mais épocas determinadas para este ou aquele tipo de fenômeno.
Eles acontecem com imprevisibilidade crescente, atingindo áreas completamente
imunes a eles poucos anos atrás.
Neste inverno, São Paulo teve chuva muito acima da média histórica. E
várias outras regiões do país passam pela mesma realidade, enquanto outras
enfrentam severas estiagens, ambas as situações gerando prejuízos de vulto.
Dos quatrocentos bilhões de dólares em prejuízos causados pelos eventos
de origem natural, perto de cento e vinte bilhões foram assumidos pelas
seguradoras. É um número expressivo, ainda mais levando em conta que o grosso
das apólices foram contratadas nos países desenvolvidos, uma pequena minoria
dentro do concerto das nações.
O problema não é as nações desenvolvidas estarem bem seguradas. O
problema está nas nações em desenvolvimento não contratarem seguros.
A primeira causa é a falta de dinheiro. Seguro não é uma atividade
bancada pelos governos. Há casos, como o seguro rural, em que o governo pode
assumir uma parte do custo do seguro, mas isso é feito muito mais visando a
capacidade de produção agropecuária do que por conta da proteção do agricultor.
Assim, como as populações dos países em desenvolvimento são pobres e não
têm os recursos necessários para arcar com estas despesas, em sua maioria elas
não contratam seguros, nem têm outros mecanismos de proteção capazes de repor
os patrimônios afetados pelos eventos de origem natural.
O resultado é que ficam na dependência das promessas dos respectivos
governos, que, logo depois da tragédia, prometem mundos e fundos, mas, na
medida em que tempo passa, vão se esquecendo delas. O resultado é o que vemos
até hoje na região serrana do Rio de Janeiro, que, anos depois da tragédia que
se abateu sobre ela, continua esperando a ajuda que nunca chega.
Nos próximos anos, é de se esperar o aumento significativo dos eventos de
origem natural, com ênfase para os fenômenos climáticos. Consequentemente, é de
se esperar o aumento significativo das áreas atingidas e dos prejuízos
causados.
Como se não bastasse, um movimento totalmente humano está agravando o
quadro. O êxodo para as regiões urbanas está criando enormes concentrações de
pessoas em regiões impróprias para serem habitadas.
Muito disto tem a ver com a pouca capacidade econômico-financeira deste
contingente de pessoas que vai deixando o campo em busca de melhores chances
nas cidades.
Sua aglomeração em áreas relativamente pequenas, densamente ocupadas, em
regiões com topografia imprópria para isso, cria as condições ideais para que
os fenômenos naturais causem danos cada vez mais severos, com prejuízos
incalculáveis se abatendo regularmente sobre diversas partes do mundo.
Sem que os governos comecem a criar políticas destinadas a reverter este
quadro, não há como, só o seguro, fazer frente às perdas.